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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Obras UNIMONTES - Sagarana, de Guimarães Rosa

Sagarana, de Guimarães Rosa PESSOAL, ACHEI ISSO NA INTERNET.APESAR DE NÃO RECOMENDAR RESUMOS, ISSO AQUI PODE DAR UMA AJUDINHA ANTES DA PROVA. CUIDADO COM ALGUNS ERROS (DO SITE) , TANTO NA LÍNGUA PORTUGUESA QUANTO NO CONTEÚDO DO LIVRO. OK? Publicado pela primeira vez em 1946, Sagarana constitui uma obra-prima da produção roseana, uma obra introdutória da mágica prosa literária atingida pelo autor. Sagarana promove uma total renovação do regionalismo brasileiro. Quando o livro foi publicado, promoveu um outro tipo de aproveitamento da linguagem regional. Guimarães Rosa trás uma complexidade maior para essa representação regional. Ele vai mais além, unindo o idioma brasileiro com a matriz européia, o que pode ser observado no próprio titulo da obra, Sagarana, que vem de "SAGA", radical de origem germânica, que significa “canto heróico”, e "RANA", língua indígena, que significa “à maneira de”. São nove contos ou novelas, como costumam discutir os críticos, que descortinam o universo da linguagem regionalizante de Guimarães Rosa e recriam, na ficção, a vida de personagens saídos interior de Minas Gerais. A grandeza dessas produções narrativas não está apenas presa ao cenário, ou à linguagem, mas à riqueza da experiência humana traduzida através de personagens que parecem, em certos momentos, vencer suas fraquezas humanas para entrar para a galeria dos mitos e heróis do sertão. Dentro desse mundo regional, a paisagem integra-se ao homem, delirando junto com ele (Sarapalha), servindo de itinerário sensorial à sua cegueira (São Marcos), servindo de caminho e descaminhos (Duelo), mostrando seus avisos e perigosos (O Burrinho Pedrês) bem como instrumentalizando, através do trabalho, a possihilidade de ascensão ao plano do divino (A hora e vez de Augusto Matraga). O processo mimético (imitativo) atinge a perfeição meticulosa, recriando detalhes insignificantes da natureza sentido de capacitar a universalização, ou seja, de inventar uma outra natureza além espaço natural e emprestar ao cenário das Gerais características universalizantes. Não são esquecidos os valores espirituais do matuto mineiro, que se igualam e traduzem os valores comuns aos homens de qualquer espaço ou tempo, consagrando a travessia humana pelo viver. As crendices deixam, assim, seu espaço restrito para tocarem a intuição universal de uma fé que ultrapassa fronteiras, colocando os sentimentos religiosos como de uma cadeia universal e metafísica, igualando os homens através de sua força interior circundando o pensamento roseano de que o destino inexorável nasce das atitudes humanas e da força diária empregada na sua condução. O narrador dos contos de Sagarana muitas vezes caracteriza como folclóricas as histórias que conta, inserindo nelas quadrinhas populares e dando-lhes um tom épico e/ou de histórias de fada. Por exemplo, temos o "Era uma vez" que inicia o conto O burrinho pedrês (Era um burrinho pedrês). Neste conto, assim como em Conversa de bois e em A volta do marido pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu suposto não saber. O título do livro, Sagarana, mostra-nos um processo de invenção de palavras, o hibridismo, muito próprio de Guimarães Rosa. Saga é radical de origem germânica e significa canto heróico, lenda; rana vem da língua indígena e quer dizer à maneira de, ou espécie de. As histórias e desenrolar dos fatos prendem-se a um sentido ou moral, à maneira das fábulas. As epígrafes que encabeçam cada conto condensam sugestivamente a narrativa e são tomadas da tradição mineira, dos provérbios e cantigas do sertão. 1. Contos onde ocorre o crescimento dos personagens: O Burrinho Pedrês, Duelo, Corpo Fechado e A Hora e Vez de Augusto Matraga. 2. Contos onde ocorre a humanização dos animais: O Burrinho Pedrês e Conversa de Bois. 3. Contos de feitiçaria: Minha Gente, São Marcos e Corpo Fechado. 4. Contos onde um instante parece valer por toda uma vida: O Burrinho Pedrês e A Hora e Vez de Augusto Matraga. 5. Contos onde costumes dos capiaus servem de temática: A Volta do Marido Pródigo e Minha Gente. 6. Contos onde está presente a idéia de travessia: O Burrinho Pedrês, Duelo e A hora e vez de Augusto Matraga. 7. Contos onde a natureza parece algo vivo (panteísmo): Sarapalha e São Marcos. Cabe ainda ressaltar que o primeiro conto, O Burrinho Pedrês, e o último, A Hora e Vez de Augusto Matraga, fecham-se num círculo temático. Fonte: Internet

Por trás dos vidros, de Modesto Carone

Por trás dos vidros, de Modesto Carone

A obra Por trás dos vidros, publicado em 2007, traz 49 contos de Modesto Carone. O livro oferece um plano geral da produção de Carone no campo da ficção. Aos contos retirados de três trabalhos anteriores – As marcas do real (1979), Aos pés de Matilda (1980) e Dias melhores (1984), foram acrescidos textos publicados nos últimos anos de forma esparsa em jornais e revistas. O agrupamento de narrativas escritas em diferentes épocas não chega a tornar o livro inorgânico, sobretudo porque há uma marca que atravessa suas 208 páginas e justifica a feliz escolha do título: o olhar oblíquo, “por trás dos vidros” que a tudo filtram (ou deformam).

Todos os contos são caracterizados por problematizar a falta de sentido. Foram escritos com linguagem clara que propõe comunicação com o leitor. Mas são enredos que têm a finalidade de provocar estranheza. E podem provocar estranheza no público receptor por que tratam de situações que podem ter tudo, menos sentido.

A morte está muito presente nos contos de Por trás dos vidros. Segundo o autor, "ela (a morte) é o estágio terminal da violência urbana, e de acordo com a psicanálise, que entende do assunto, o homem tem três noivas: a mãe, a esposa e a morte. É possível que eu esteja noivando pela última vez, mas isso não significa que esse noivado seja breve. Montaigne dizia que filosofar é aprender a morrer."

Nos breves contos de Carone, os movimentos são introspectivos. Seus personagens detêm-se no detalhe, na avassaladora tensão interna que precede cada ato, nas potências misteriosas que regem os acontecimentos. Quase sempre é uma imagem externa que aciona o gatilho. Ao visitar o local em que passou a infância, o protagonista de Passagem de ano entre dois jardins sente os tempos do presente e da memória acasalarem-se e, numa epifania, infere que “é inaceitável se aprender a morrer”. O jovem apaixonado de À margem do rio experimenta a dor do primeiro luto quando vê a bailarina do circo, dona de seus afetos, partir. Em Bens familiares, o homem não aguenta o desacerto das batidas do carrilhão que costuma lhe fazer companhia nas horas mortas - “um engasgo passou a substituir o intervalo entre as badaladas” – e o destrói. O viés simbólico é evidente.

Em vários textos, como Subúrbio, Dias melhores, Rito sumário e Fim de caso, Carone vale-se também do recurso da numeração. Ao promover o ordenamento formal de enredos essencialmente insólitos, o autor ajuda a cristalizar o conflito que assalta seus personagens, cindidos entre a ‘normalidade’ externa e a ‘subversão’ interna. Esse duplo aparece ainda mais nítido em O cúmplice. O conto relata a agonia do indivíduo que evita o seu ‘outro’ por uma razão prosaica: o dente podre e dolorido. Quando enfim consegue livrar-se daquele que o persegue, ele nota que sumiu também o incômodo dentro da boca. Mas logo reitera a desconfiança de um rápido retorno, como se o soubesse inevitável: “Quem convive com os seres da sombra sabe muito bem que eles se apegam à vida assim que nós os tornamos necessários”.

Em alguns textos, Carone não resiste a explicitar uma ‘moral da história’ e abdica da penumbra que paira sobre a maior parte da obra. O caso de As faces do inimigo é exemplar. O protagonista passa as tardes vigiando de forma minuciosa os pêlos que crescem, à revelia, ao longo de seu corpo. A tarefa é árdua, já que a multiplicação ocorre rapidamente, “os espécimes rebeldes proliferam, a conta de luz, por causa dos refletores, sobe sem parar” e, além de tudo, é preciso repor as pinças. De lúdica, a empreitada torna-se exasperadora. Mas a promissora trama desmancha-se no artifício de uma frase ‘conclusiva’: “Ocorreu-me então, daquele rosto abismado, que muito pouco se pode fazer contra as manifestações espontâneas”.

Embora destoem, esses pequenos desvios não chegam a fazer malograr o livro, que culmina no belíssimo Utopia do jardim-de-inverno. No conto, o narrador contempla a extrema morosidade com que a natureza se transforma, tentando esquadrinhar “o mundo complicado” de uma estufa. “Todas as vezes que eu entro no jardim-de-inverno alguma novidade me espera. Não que lá aconteçam coisas excepcionais – a não ser para os olhos habituados ao trato maleável com as nuances”, anota ele. De certo modo, essa espera sem pressa por “sinais aparentemente insignificantes, como trocas discretas de posições e arranjos que a vista destreinada não distingue”, reencena a busca de Carone em Por trás dos vidros: enxergar as luzes mais inusitadas, flagrar os meneios mais perturbadores – ainda que sem decifrá-los.

Na ficção de Carone o limite entre o que pode ser sonho, delírio e ação é frágil. De repente, um personagem encontra um cadáver enforcado dentro do guarda-roupa. Outra voz, em outro texto, sugere: "Como as imagens poéticas não mudam o mundo, dei a partida e fui para casa aliviado por não pensar em mais nada". Personagens, outros, entorpecidos pela realidade, buscam inéditas Pasárgadas. Numa aleatória página do livro se lê: "Órbitas acesas como pedras de carvão". Um personagem tem a mão decepada. Outro tem a convicção de que determinado mês é feito somente a partir de crueldades. Um terceiro busca refúgio dentro de uma caixa d'água. Um quarto mata, literalmente, o pai. E sombras acompanham os personagens caronianos - da mesma forma que fazem companhia a humanos da realidade real.

Os destinos dos personagens caronianos não têm sentido. Seja o personagem que quase consegue ter uma relação com uma bailarina. Seja o personagem que não sabe em que cidade está e sequer pode precisar se sonha ou está acordado. Seja o sujeito que depois de ser assaltado decide beber café e não pensar em nada. Seja o burocrata que não vê saídas no labirinto em que está enredado, preso e engessado. Seja o escritor em crise de criação e de relacionamento. A falta de sentido é elemento comum entre esses e os demais personagens caronianos.

Supostos absurdos inesperados estão distribuídos em meio às páginas de Por trás dos vidros, mas surpresas imprevisíveis e fatais acontecem desde sempre e desde muito, e não foi assim com aqueles que embarcaram em caravelas navegando em águas nunca antes navegadas?

TRECHOS - Por trás dos vidros

É tarde, a chuva bate nos vidros, ele está sentado num canto da sala. Talvez apóie o rosto numa das mãos ou cruze as pernas mas não se percebe nenhum movimento. A obscuridade é maior porque as cortinas estão descidas e a luz só filtra por algumas frestas. Não é possível registrar nada com nitidez, ele está parado ou parece parado na poltrona do canto da sala.

(do conto O Natal do viúvo)

Pelas vidraças da casa de chá posso ver a fachada maciça da estação de ferro. As cúpulas de cobre estão fora de foco porque a temperatura baixou e o nevoeiro gelado começou a descer. A praça é oval, o pavimento de pedra brilha sob um reflexo instável e o relógio da estação está marcando quatro e meia. É inevitável que daqui a pouco ele soe claro como uma caixa de música holandesa.

(do conto Por trás dos vidros)

Contar é o método mais eficiente que consegui desenvolver para impedir a manifestação dos urros; tanto que eles emudecem assim que o cortejo dos números parte do cérebro para a boca. O avanço é decisivo em primeiro lugar porque desmente a versão de que sou um idiota capaz de pensar; em segundo porque é desse modo que concilio o sono. (do conto Desentranhado de Schreber)

Surpreendi o esquilo na escrivaninha quando me sentei para responder a uma carta de pêsames. Embora esse tipo de obrigação me incomode, naquele momento meu limiar de resistência tinha chegado a um nível razoável. Foi estimulado por ele que resolvi dedicar uma parte da manhã à expressão dos meus sentimentos.

(do conto Corte)

Desde que descobri o cadáver do enforcado no meu guarda-roupa passei a me vestir com mais cuidado. Antes bastava que uma calça ou camisa cobrisse o corpo para que eu as considerasse adequadas.

(do conto O espantalho)

Fonte: Internet

Paraísos artificiais, de Paulo Henriques Britto

Paraísos artificiais, de Paulo Henriques Britto

O livro Paraísos artificiais, de Paulo Henriques Britto, publicado em 2004, título poético, baudelairiano, reúne nove contos, a maior parte escrita nos anos 70 e reescrita ao longo das últimas décadas. Não há fio condutor, unidade temática ou estilística nas narrativas. A obra é resultado de obsessão e, também, depuração. Britto diz ter escrito cerca de 30 contos durante o ano e meio (entre 1972 e 73) que passou em San Francisco, na Califórnia, estudando cinema. Quando relidos, mais tarde, quase todos foram jogados fora. Os restantes começaram a ser burilados. Seja qual for o cenário - a cidade grande, o estrangeiro ou a provinciana São Dimas -, os contos contidos neste livro capturam sempre situações extremas - que podem ser uma doença sem nome ou um mero ônibus errado - e encontros embaraçosos - quase sempre do protagonista consigo mesmo.

Os pretextos podem ser mínimos, até mesmo banais, mas os impasses que logo se criam não têm nada de trivial. Em contos desde já antológicos, como "Uma visita", "Um criminoso" e "O primo", a mão firme de Britto conduz seus heróis e narradores a visões nuas e dolorosas de si mesmos: mais alheios, mais tortuosos, mais covardes do que gostariam de ser. Entre os contos está "Uma Doença", em que o narrador passa todo o tempo deitado, analisando curvas, manchas, rachaduras e acidentes geográficos de paredes, tetos, chãos e até do seu lençol. Os contos mais antigos são de uma época em que eu lia muito [Samuel] Beckett [1906-1989]. "Uma Doença" é puro Beckett, diz Britto, classificando os primeiros textos do livro de "solipsistas", enquanto os finais são "mais convencionais". A imobilidade tipicamente beckettiana aparece também no pequeno conto-título, que abre o livro, "Os paraísos artificiais" (que poderá ler abaixo, na íntegra). O narrador mostra a um suposto personagem que não há uma posição em que ele ficará duradouramente confortável, seja deitado, sentado ou em pé. Só há uma saída: Sentar-se na cadeira, pegar um lápis e uma folha de papel e começar a escrever.

A escrita como saída para a inércia se repete em "Uma Doença". Já em "Uma Visita", é a narração que se move de um personagem a outro, mas aquele que está na janela não reage. A janela (indiscreta e paranóica) também é o cenário de "Um Criminoso", em que um homem narra o que vê de maneira muito peculiar e exalta a imobilidade. "Essa lealdade das coisas sem vida me enternece profundamente, dá quase vontade de chorar. A gente sempre pode confiar num escorredor ou num fogão de quatro bocas ou num pano de prato, eles são absolutamente incapazes de sacanear a gente. É mesmo um negócio comovente. O amor deve ser mais ou menos isso", diz ele no conto. "O Primo" e "Coisa de Família" nasceram como esboços de romance nos anos 70, mas acabaram se transformando em contos. Em comum, eles têm personagens para quem a convivência é (ou está) nitidamente desconfortável, característica também de "O Companheiro de Quarto". "Acho que isso perpassa todo o livro por causa da situação em que eu estava, morando sozinho num outro país", acredita Britto. O único conto escrito no século 21 foi "Os Sonetos Negros", o último e maior do livro. A história se passa na fictícia São Dimas, cidade em que Britto situara oito contos nos anos 70, todos jogados no lixo por seu perfeccionismo, para onde a jovem Tânia viaja para pesquisar a obra da poeta morta Matilde Fortes. Deliciosa farsa literária ao sabor de Henry James, "diário" de uma viagem de iniciação, de um desencontro que põe em xeque as certezas do politicamente correto e expõe um jovem estudante às surpresas que a vida e a literatura não param de tramar. A narrativa é recheada de ironias à vida acadêmica, como a invenção de palavras pedantes e inúteis ("matildeana", "clitoricêntrica") e a euforia desencadeada pela suspeita de que a poeta poderia ter sido lésbica. Mistura enigma literário, investigação crítica e trama misteriosa, quase sherlockiana. Com a vantagem de que cada detalhe foi calculado com verossimilhança.

Vários personagens destes contos de Paulo Henriques Britto recorrem ao ato da escrita para encontrar seus supostos paraísos. Surpreendente é a capacidade que Paraísos Artificiais tem de prender o leitor sem recorrer a uma escrita menos sofisticada. Mais surpreendente ainda é a diversidade de temas abordados por Britto sem que a unidade seja quebrada. Vai desde o clima policial em “O 921”, que mostra um sujeito afogado em uma sucessão de equívocos, até o intimismo de “O Companheiro de Quarto”, sobre a ambigüidade de dois sujeitos que moram juntos e fingem ignorar a existência um do outro, como já citado.

Trecho do livro Paraísos artificiais

OS PARAÍSOS ARTIFICIAIS (1º conto da obra)

Você está sentado numa cadeira. Você está sentado nesta cadeira já faz bastante tempo. Você fica sentado nesta cadeira durante muito tempo, diariamente. Você não conseguiria ficar parado em pé por tanto tempo; logo você ficaria cansado, com dor nas pernas. Também não conseguiria permanecer tanto tempo assim deitado na cama, de cara para o teto; essa posição se tornaria cada vez mais incômoda com o passar do tempo, até fazê-lo virar-se para um lado - por exemplo, para o lado esquerdo; mas depois de alguns minutos de bem-estar, seu corpo seria dominado pouco a pouco por uma sensação de desconforto que gradualmente se transformaria numa idéia, de início vaga, depois mais nítida, mais e mais, até cristalizar-se nas palavras: "Esta posição é a menos confortável que há", e essas palavras em pouco tempo levariam a estas: "A posição mais confortável de todas seria ficar virado para a direita". A idéia aos poucos se tornaria mais forte, até sobrepujar a inércia natural do corpo, e nesse momento você se viraria para o lado direito. Imediatamente uma sensação deliciosa de prazer lhe invadiria o corpo, como se cada célula sua fosse uma boca a proclamar: "Esta é verdadeiramente a mais confortável de todas as posições". A nova sensação, porém, não perduraria por muito tempo; logo você seria obrigado a trocar de posição mais uma vez, e todo o ciclo recomeçaria. Mas quando você está sentado, sentado nesta cadeira, nada disso acontece. Você é capaz de ficar sentado nela horas a fio, os olhos fixos na parede em branco, sem pensar em nada, sem sentir nada além da sensação de ter um corpo, de estar ali, sentado, olhando para uma parede em branco, intensamente acordado. Você consegue ficar sentado assim nesta cadeira por muito tempo sem nem mesmo trocar de posição; e quando você se cansa da posição em que está, basta mudar ligeiramente as posições relativas das pernas e dos pés - por exemplo, colocar o pé direito em cima do esquerdo se antes o esquerdo estava em cima do direito - e logo você restabelece o conforto com um mínimo de esforço, sem ter que reestruturar a posição geral do corpo, como aconteceria se você estivesse deitado. É bem verdade que tais trocas de posição não proporcionam a sensação quase orgástica que você experimenta quando, deitado na cama, depois de passar muito tempo voltado para um lado, cada célula de seu corpo é como uma boca clamando: "A melhor posição seria estar virado para o outro lado", e você finalmente se vira; na cadeira, tudo o que acontece é uma leve sensação de desconforto ser substituída por uma leve sensação de conforto. Porém tudo é uma questão de escolha, e entre, de um lado, uma situação em que breves períodos de intenso prazer se alternam com longos períodos de conflito entre inércia e desconforto crescente, e, de outro, uma situação em que perdura uma sensação mais ou menos constante de bem-estar, sem grandes variações, você prefere a segunda. É um direito seu; o corpo é seu. Mas esta escolha acarreta certos problemas. Ao contrário da situação da cama, que pelo menos promete o sono, a perda da consciência, o esquecimento de tudo isso que tanto incomoda você, a da cadeira não guarda promessa alguma: é necessário tentar perpetuá-la, fazê-la durar o máximo de tempo possível; porém chega uma hora em que suas pernas começam a sentir-se desconfortáveis em todas as posições possíveis - que, afinal de contas, não são tantas assim -, e mais cedo ou mais tarde você é obrigado a levantar-se, tão desperto quanto antes. E este prolongamento da vigília tem seus perigos. Pois ao levantar-se da cadeira você se dá conta de que a porção de espaço que você ocupou durante tanto tempo, sentado na cadeira, está agora impregnada da presença física do seu corpo; ou seja, ela guarda agora alguns vestígios de substancialidade que seu corpo deixou ali. Cada vez que você voltar a passar pelo trecho do quarto onde estava a cadeira, durante o momento exato em que seu corpo reocupar o espaço exato em que permaneceu por tanto tempo, você vai sentir uma intensificação súbita da sua existência, de seu próprio corpo - a sensação física de recapturar um pedaço de você que já não lhe pertence. Naturalmente, nada impede que você recoloque a cadeira no mesmo lugar de antes, se sente nela e permaneça ali por quanto tempo quiser, ou conseguir, e durante todo esse tempo goze a sensação de estar na posse da sua materialidade perdida. Mas essa sensação é ilusória, pois esses vestígios não fazem mais parte de você: só podem ser ocupados provisoriamente, como uma roupa que se veste. Assim que se cansar desse jogo e se levantar da cadeira, você vai voltar a perdê-los: mais ainda, vai perder também uma pequena porção adicional de sua matéria, mais vestígios seus que vão ficar no ar, superpostos aos anteriores. Esses vestígios mais cedo ou mais tarde vão se dispersar, com o movimento constante de corpos no quarto, e se perder para sempre. Assim, você está constantemente largando camadas sucessivas de seu ser, desintegrando-se a cada instante de sua existência no espaço; e é por isso que você não é eterno, não pode ser eterno, pelo mesmo motivo que um lápis ou uma borracha não podem ser eternos. Mas há uma maneira simples de alterar essa situação - quer dizer, não alterá-la objetivamente, o que seria impossível, e sim modificar o modo como você a vivencia (e como você só sabe das situações o que vivencia delas, para todos os fins práticos modificar sua percepção de uma situação é a mesma coisa que modificar a situação em si): basta sentar-se na cadeira, pegar um lápis e uma folha de papel, e começar a escrever.

Fonte: Internet

Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso

Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso

Crônica da Casa Assassinada, do escritor mineiro Lúcio Cardoso, obra publicada em 1973, acompanha a ruína de uma aristocrata família mineira. Uma saga que se desenrola nos limites de uma casa de fazenda. A casa desempenha o papel principal: os personagens são feitos do cimento da casa e esta, da carne dos seus habitantes. A perspectiva dos temores que habitam a casa, da casa que sangra, que sofre, que abriga os mais trágicos segredos. Lúcio Cardoso revela pendor para criação da atmosfera de pesadelo e de sondagem interior a que lograria dar uma rara densidade poética. Aproveita as sugestões do surrealismo, sem perder de vista a paisagem moral da província que entra como clima nos seus romances. Crônica da Casa Assassinada reconstrói de maneira admirável o clima de morbidez que envolve os ambientes e os seres. Fixa a angústia de um amor que se crê incestuoso. Em vez de referências diretas, são as cartas, os diários e as confissões das pessoas que conheceram a protagonista (e dela própria), que vão entrar como partes estruturais do livro, tornando a narrativa incomum e que costuram com maestria a história dos Meneses, centrada na presença de uma mulher desconhecida.. A tragédia de um ser passa a refletir-se no caso das testemunhas; e estas percorrem a vária gama de reações que vai da febre amorosa ao ódio, deste à indiferença ou ao juízo convencional. O caso psicanalítico sai, portanto, do beco da auto-análise e assume dimensões familiares e grupais. Realiza uma forma complexa de romance em que o introspectivo, o atmosférico e o sensorial não mais se justapusessem, mas se combinassem no nível de uma escritura cerrada, capaz de converter o descritivo em onírico e adensar o psicológico no existencial. Crônica da casa assassinada surpreende antes de tudo pelo seu fôlego, e também pelo uso apropriado e coerente de vários instrumentos narrativos, cada um deles a cargo de um narrador diferente. Enquanto viaja devagar por uma trilha escura, à margem da qual se sucedem os sinais de desvios psicológicos e conflitos de natureza moral, o leitor testemunha a demorada queda da casa dos Menezes, tradicional família mineira - esse reduto de dominação e violência discreta que o autor fez questão de atacar sem piedade. A agonia de Nina, protagonista da obra, sua alma libertária presa a um corpo carcomido pelo câncer, é a ramificação da metástase que condena a casa e contagia seus habitantes com a degenerescência da propriedade produtiva transformada em um cemitério de mortos-vivos. As flores, violetas, marcam as estações dos personagens, os enganos, a vida na realização do amor no canteiro de um homem jovem, as tantas mortes, a ressurreição possível na imortalidade dos genes e a prisão a que estão condenados os homens resignados.

Resumo do enredo

Quando Nina, recém-casada com Valdo chega à chácara dos Meneses, vinda do Rio de Janeiro — depois de sucessivos adiamentos que levam seu marido a uma situação de desconfiança e ciúme — fica sabendo logo na primeira refeição com a família, da difícil situação econômica em que esta se encontra: Valdo a tinha enganado. Demétrio, talvez por alguma desforra de briga familiar ou simplesmente por inveja, faz questão de revelar a verdadeira situação econômica da família, em meio a áspero diálogo com seu irmão, chega inclusive a dizer que Valdo não tinha enviado o dinheiro que prometera a Nina para a viagem até a chácara porque não o possuía. A vida monótona na chácara Meneses vai pouco a pouco desconsolando Nina, pouco acostumada a essa vida do campo. Depois de muito insistir com Valdo, passa a morar com ele no "pavilhão" que ficava afastado da casa onde moram os demais e, nesse ambiente, tem uma temporada feliz. Entretanto, e aproveitando-se dessa situação, Nina pôde começar um romance oculto com o jardineiro Alberto, até que um dia foi surpreendida por Demétrio em atitude suspeita, apesar de não ser de todo conclusiva. Demétrio não deixa de fazer um escândalo de Nina, mesmo esperando o primeiro filho, decide abandonar a chácara e voltar para o Rio. Por causa desse incidente, Valdo fica bastante desolado e tenta o suicídio. Nina, ao ver a reação do marido, como que movida de compaixão, volta atrás na sua decisão de partir. No entanto, esse sentimento dura pouco e, passado o primeiro momento, volta para o Rio. As atitudes de Nina são sempre abusivamente falsas. Engana a todos defendendo seus interesses. Mente dizendo ser sincera. Estando já no Rio, chega a escrever a Valdo dizendo que apenas pensou remotamente no jardineiro, depois de ter negado tantas vezes qualquer envolvimento. A Ana, do mesmo modo, confessa abertamente ter-se apaixonado e relacionado com ele, com a finalidade exclusiva de fazê-la sofrer e escandalizá-la, desabafando todo ódio que sentia por ela. Sua decisão definitiva de abandonar a chácara é tomada pelas revelações de Timóteo e Betty, a empregada, que tinham escutado a conversa entre Valdo e Demétrio, quando discutiam e decidiam mandar Nina embora. Timóteo é um personagem totalmente esquisito;sempre trancado em seu quarto vestia-se com as roupas se sua mãe, mas chegou a ganhar a amizade de Nina. Betty sempre muito fiel e prudente, é amiga e fiel servidora de todos e chega mesmo a ser conselheira apesar de não estar totalmente a par dos fatos. Para Ana a partida de Nina representa um grande triunfo e alívio, pois não se pode conter na sua inveja e inferioridade e por outro lado (como só ao final do livro se revela), tinha-se apaixonado por Alberto exatamente quando descobre o romance deste com Nina e faz tudo por ganhar a preferência dele, do qual acaba por esperar um filho. A sua vida com Demétrio era tediosa e o seu ciúme cresce dia a dia. Persegue Nina em suas saídas e encontros furtivos e chega mesmo a enfrentar-se com ela. O que encobriu suas faltas foi a saída de Nina, pois aproveitando-se do conselho que o médico lhe dera: "já não anda bem de saúde", obtém permissão de viajar para o Rio e tentar convencer Nina a voltar, ou pelo menos trazer o filho do Valdo. Em virtude deste fato, oculta a sua gravidez e pode dar a luz a seu filho no Rio de Janeiro. Quanto a Alberto, no dia em que soube da partida de Nina, a definitiva, suicidou-se. Um pouco antes, para agravar o seu estado emocional, tinha sido despedido por Demétrio, mas mesmo assim não fora embora. O Autor habilmente faz parecer pelo relato de Ana que Nina teria jogado um revólver pela janela propositalmente, o qual é apanhado pelo jardineiro que espreitava pelo jardim uma conversa de Nina e Valdo. Ana ainda o vê agonizante, mas já não pode fazer mais nada. Antes riu porque suspeitava dessas conseqüências, mas apenas aguardou os acontecimentos. Somente depois de quinze anos é que Nina volta a manifestar-se a Valdo. Pede-lhe dinheiro e depois diz que vai regressar à chácara, para o que é seu, principalmente seu filho, André. Passou todo esse tempo, como antes de casar-se, protegida por um coronel amigo de seu pai, o qual a sustentava sem nada exigir. Entretanto abandona o bom amigo e regressa à chácara, iniciando logo um estranho e apaixonado romance com seu aparente filho, André. Ana logo desconfia e descobre a situação seguindo-os e no fundo procurando uma vingança contra Nina, por seu recalque e ciúme. Nesse intermédio, tanto Ana quanto Valdo procuram o apoio do Pe. Justino — que lhes aconselha douta e praticamente, mas não obtém resultado satisfatório. Valdo, pela atitude do filho, começa a desconfiar e tenta dialogar com Nina, a qual reage fulminantemente, surpreendida de que seu marido pudesse desconfiar da esposa e do próprio filho. Até que um dia Nina revela padecer uma doença e pede dinheiro para tratar-se no Rio. Parte no dia seguinte, depois da anuência de Valdo (que por sinal não acredita) e sem dizer nada a ninguém. Durante 15 dias que passa no Rio, vai ao médico, examina-se e se comprova o estágio muito avançado da enfermidade e o pouco tempo de vida que terá. No último dia de Rio de Janeiro encontra-se com o coronel, dizendo que voltava para ficar e que era sincera com ele; no entanto, consegue fazer com que ele compre todo um guarda-roupa novo para si e desaparece sem nenhuma outra satisfação. Regressa à chácara e pouco tempo depois tem que guardar o leito até o dia do seu falecimento. Para André, a sua vida se transforma quando conhece Nins e a paixão por ela o cega totalmente. Vive como um adolescente apaixonado, sem perceber direito a dimensão do seu pecado. Não entende muito o que ocorre e também não se esforça por fazê-lo, somente querendo dar vazão ao seu sentimento. O último capítulo do livro "Pós-escrito numa carta do Pe. Justino", traz a grande revelação final. Ana luta contra a sua consciência. A sua maldade e frustração haviam sido demasiadamente grandes. Tinha ido morar no "Pavilhão" e estava moribunda, quando manda chamar o Pe. Justino. Queria dizer-lhe tudo a bem da verdade e que todos soubessem, André era seu filho natural e não de Nina e Valdo. Entretanto o que mais lhe doía é que Nina devia sabê-lo (nunca teve certeza disto). Deu-se esta circunstância exatamente porque quando foi ao Rio buscar Nina, domente entrou em contacto com ela após o nascimento de André. Nina disse-lhe ter deixado o filho de Valdo no hospital e que não sabia mais dele, e aproveitando-se disso, Ana trouxe André à chácara como sendo o filho de Nina e Valdo. Na verdade, ela não tinha ido ao hospital buscá-lo, como dissera a Nina. Assim como durante toda a sua vida, Ana morre sem esboçar arrependimento, mas apenas um remorso profundo por ter agido errado. O Pe. Justino não pode tentar mais nada apesar de compreender bem o estado daquela alma e da gravidade do seu pecado.

Fonte: Internet

Cobra Norato, de Raul Bopp

Cobra Norato, de Raul Bopp

Com Cobra Norato, de 1931, cujo tema vem do fundo popular, Raul Bopp compõe, na linha do "primitivismo" da década de 1920, um dos mais belos poemas inspirados pelo Movimento Antropofágico. Neste poema, o poeta cria um drama épico e mitológico nas selvas amazônicas, incorporando à moderna estrutura do verso livre elementos do folclore e da fala regional, fundindo imagens originais com o ritmo tenso, sintético, sincopado, quase telegráfico.

Profundo e rigoroso artesão da linguagem, Bopp reescreveu seus poemas à exaustão, sempre cortando excessos, refinando imagens, buscando soluções mais precisas, imprevistas. Soube aliar primitivismo com elaboração construtiva, estabelecendo na poesia um correlato à prosa do Macunaíma de Mário de Andrade. Como Macunaíma, em busca do seu talismã e nostálgico de Ci, Mãe do Mato, Cobra Norato sai, também, na demanda da Rainha Luzia, mãe da filha com quem deseja casar-se, em nome do crescimento da tribo que constituirá as idades da nação.

É a materialização das coisas que o autor, em seu estudo detalhado da Amazônia, absorveu, tais como lendas, falares regionais, ritos, para transformar em livro, que não foi bem recebido pela crítica. Sobre seu livro, Bopp chamou-o de "audácias extragramaticais e uma movimentação de material de camada popular". No fragmento a seguir, pode-se notar a capacidade imagética de Bopp em Cobra Norato: "Rios magros obrigados a trabalhar descascam barrancos gosmentos. Raízes desdentadas mastigam lodo." Em determinado momento do poema, Bopp fala do surgimento do Brasil com seus componentes humanos; entre estes aponta o negro, que exerce um papel secundário no processo social.

O poema pode ser dividido em duas partes, que estabelecem um contraste. A primeira parte refere-se ao Brasil industrial - urbano e a segunda parte refere-se ao Brasil interiorano e rural. Mostra um Brasil dividido entre o interior e a capital, donde o atraso do primeiro revalida forças contra a riqueza do último.

Concebido inicialmente como história para crianças, o poema tem, como já citado, estrutura épico-dramática, da qual se podem extrair também coros para bailado. "No fundo Cobra Norato representa a tragédia das febres, a maleita "cocaína amazônica", quando ouviu o mato e as estrelas conversando em voz baixa" (palavras de Raul Bopp).

Observa-se que o mito da viagem, no tempo e no espaço, é a viga-mestra de Cobra Norato.

O poema Cobra Norato trata da história de um eu poético que mergulha no mundo maravilhoso do sonho, encarna a cobra lendária da Amazônia e segue para as “ilhas decotadas”, isto é, as terras do “Sem-fim”, em busca da mulher desejada. A aventura de Cobra Norato segue o padrão de unicidade ao descrever a trajetória do herói mítico: partida/iniciação/retorno. O poema que se inicia com os seguintes versos:

Um dia

hei de morar nas terras do Sem-fim

vou andando caminhando caminhando

me misturo no ventre do mato mordendo raízes

Expressa o desejo do narrador de retornar às origens, portanto, à mãe. O herói vive o momento do sonho, configurado pelo tempo “um dia”. Ao penetrar no “ventre” da floresta, ele segue por tortuosos caminhos, logo sente que “(...) o sono escorregou nas pálpebras pesadas”.

Oscilando entre o épico, o lírico e o dramático, é impossível uma classificação rigorosa, em virtude da liberdade de sua estrutura e a riqueza de sua poesia, produzindo efeitos inesperados pela associação da linguagem popular, da linguagem infantil e das linguagens tupi e africana: num soturno bate-bate de atabaque de batuque.

A narrativa é simples: o herói, Cobra Norato (nheengatu da margem esquerda do Amazonas), assumindo a espiritualidade do autor, sai em busca de sua amada - a filha da Rainha Luzia. Em meio aos mistérios da Amazônia vai vencendo os mais insólitos obstáculos até encontrar o rival - a Cobra Grande - finalmente derrotado.

De início, o poeta brinca de amarrar uma fita no pescoço de Cobra Norato, estrangula-a e enfia-se na pele do réptil. Depois de dormir começa a procurar a filha da rainha Luzia, descrevendo a natureza amazônica e os obstáculos e incidentes da procura:

Mas antes tem que passar por sete portas,

ver sete mulheres brancas de ventres despovoados,

guardadas por um jacaré.

- Eu só procuro a filha da Rainha Luzia.

Tem que entregar a sombra para o bicho do fundo.

Tem que fazer mironga na lua nova.

Tem que beber três gotas de sangue.

- Ah, só se for da filha da Rainha Luzia!

Uma descrição da Floresta Amazônica:

Esta é a floresta de hálito podre

parindo cobras.

Rios magros obrigados a trabalhar

descascam barrancos gosmentos.

Raízes desdentadas mastigam lodo.

A água chega cansada.

Resvala devagarinho na vasa mole.

A lama se amontoa.

.............................................................

Vento mudou de lugar

............................................................. Um berro atravessa a floresta.

Aqui, Cobra Norato, atolado "num útero de lama", encontra um coadjuvante, seu compadre:

- Olelê. Quem vem lá?

- Eu sou o Tatu-da-Bunda-Seca

- Ah, compadre Tatu

que bom você vir aqui

Quero que você me ensine a sair desta goela podre

- Então se segure no meu rabo

que eu le puxo.

Vem depois a chuva, o mar e a pororoca. O poeta Cobra norato e o compadre roubam farinha, ouvem de Joaninha Vintém o "causo" do Boto ("moiço loiro, tocador de violão"), vão a uma festa. O compadre percebe vindo pelas águas algo como um navio prateado:

O que se vê não é navio. É a Cobra Grande.

Quando começa a lua cheia, ela aparece.

Vem buscar moça que ainda não conheceu homem.

E vai o poeta levando "um anel e um pente de ouro / pra noiva da Cobra Grande", quando lhe perguntam:

Sabe quem é a moça que está lá em baixo

...nuinha como uma flor?

- É a filha da Rainha Luzia!

O poeta rapta-a e fogem. Cobra Grande os persegue. Mas Pajé-Pato ensina o caminho errado para a Cobra Grande, que:

esturrou direito pra Belém

Deu um estremeção

Entrou no cano da Sé

e ficou com a cabeça enfiada debaixo dos pés de N. Senhora

Enquanto isso, o poeta vai para as terras altas com a noiva onde se casam e são felizes:

- E agora, compadre

vou de volta pro Sem-Fim

vou lá para as terras altas

onde a serra se amontoa

onde correm os rios de águas claras

entre moitas de mulungu.

Quero levar minha noiva

Quero estarzinho com ela

numa casa de morar

com porta azul piquininha

pintada a lápis de cor

Quero sentir a quentura

do seu corpo de vai-e-vem

Querzinho de ficar junto

quando a gente quer bem bem.

Convida para o casamento muita gente, até a Maleita:

Procure minha madrinha Maleita

diga que eu vou me casar;

que eu vou vestir minha noiva

com um vestidinho de sol.

E acorda, pois o poema era um sonho.

Os fragmentos transcritos a seguir exemplificam alguns momentos da grande força lírica:

A lua nasce com olheiras

O silência dói dentro do mato

Abriram-se as estrelas

As paguas grandes encolheram-se com sono.

A noite cansada parou.

Ai, compadre!

Tenho vontade de ouvir uma música mole

que se estire por dentro do sangue;

música com gosto de lua,

e do corpo da filha da Rainha Luzia

que me faça ouvir de novo

a conversa dos rios

que trazem queixas do caminho

e vozes que vêm de longe

surradas de ai, ai, ai.

Atravessei o Treme-Treme

Passei na casa do Minhocão

Deixei minha sombra para o bicho-do-fundo

só por causa da filha da Rainha Luzia.

No princípio era sol, sol, sol

O Amazonas não estava pronto

As águas atrasadas

derramavam-se em desordem pelo mato.

O rio bebia a floresta

Depois veio a Cobra Grande amassou a terra elástica

e pediu para chamar sono

As árvores enfastiadas de sol combinaram silêncio

A floresta imensa chocando um ovo!

Cobra Grande teve uma filha.

Noite está bonita.

Parece envidraçada.

Dormem sororoquinhas na beira do rio.

Árvores nuas tomam banho.

Jacarés em férias num balneário de lama

mastigam estrelas que se derretem dentro d'água.

Por entre trouxas de macegas

passa uma suçuarana com sapatos de seda.

Ventinho manso penteia as folhas de embaúba.

A paisagem se desfia num pano.

Cunhado Jabuti torceu caminho

- Dê lembranças à dona Jabota.

Enquanto é noite

com todo esse céu espaçoso e tanta estrela

vamos andando e machucando estradas

mais pra adiante.

Resumo

No ventre da noite, o poeta estrangula a Cobra Norato e enfia-se em sua pele elástica para sair dos confins da floresta amazônica em direção a Belém do Pará, em busca da filha da Rainha Luzia, com quem ele quer se casar. O primeiro passo da caminhada é apagar os olhos, escorregar no sono e entrar na floresta cifrada. Sob a sombra fechada das árvores, entre sapos beiçudos, charco, lama, atoleiros provocados pelas águas dos rios, Norato avança e cumpre as missões impostas pelo mascarão que encontra no meio do caminho: passar por sete portas, ver sete mulheres brancas de ventres despovoados, guardadas por um jacaré; entregar a sombra para o Bicho do Fundo; fazer mirongas na lua nova; beber três gotas de sangue. Norato cumpre as provas, mas não encontra a moça. Avança sozinho pela selva insone. O entusiasmo inicial cede a um certo desalento: 'Onde irei eu que já estou como sangue doendo das mirongas da filha da rainha Luzia?' A região torna-se lúgubre. É a floresta de hálito podre, de raízes desdentadas saltando do lodo. Na Escola das Árvores, uma árvore velha enfileira impiedosa as jovens árvores condenadas a produzir as folhas que cobrem a floresta. 'Ai, ai, ai,' gemem elas, 'somos escravas do rio'.

Cobra Norato alcança o fundo da floresta, onde a terra é fabricada e as árvores passam a noite tecendo folhas em segredo. Está perdido em um escuro labirinto de árvores. A atmosfera pesada prenuncia tempestade. Pernaltas movem-se devagar, miritis abrem os grandes leques vagarosos, sapos coaxam com vigor. Desaba a chuva violenta: o vento saqueia as vegetações, nuvens negras se amontoam, lagoas arrebentam, árvores se abraçam. Norato atola-se em um útero de lama, de onde sai graças à ajuda do tatu que se transforma também em companheiro de viagem. Vem um período de descanso e também de tristeza. Onde afinal andará a filha da rainha Luzia? O tatu propõe que partam para o lago Onça-poiema. Cobra Norato refresca-se nas águas do rio, comunga com os animais que por ali pastam. Quando partem novamente para o interior abafado da floresta, a noite já está se fechando. O tatu avisa: começa naquele dia a maré grande. Os dois rumam, pelo mangue, paras as bandas do Bailique. Querem ver chegar a pororoca. Quando a lua cheia aponta, vem a onda inchada, rolando em vagalhões. Na força da enchente, eles navegam para uma polpa de mato onde Norato descansa e cisma: 'o que é que haverá lá atrás das estrelas?' Mas a fome aperta e dois vão para o patirum roubar tapioca.

Na casa das farinhadas grandes, as mulheres trabalham nos ralos mastigando os cachimbos. Joaninha Vintém conta o causo do boto que a surpreendeu enquanto lavava roupa. Vendo a animação da festa, Norato e o tatu viram gente. Cantam, dançam os chorados de viola, bebem cachaça. Na hora de partir, Joaninha Vintém quer ir junto, mas Norato não aceita. Pegam o corpo que ficou lá fora e continuam viagem.

Mais adiante, uma pajelança. A onça curuana entra no corpo do pajé, que examina os doentes de sezão, de inchado no ventre, de espinhela caída. Faz benzedura de destorcer quebranto, fuma, defuma, até tontear e cair. No meio da floresta, o som longínquo de um trem Maria-fumaça acorda o mato. Ao longe, flutuando no rio, Norato vê um navio com casco de prata e as velas embojadas de vento. Navio não, corrige o tatu. É a Cobra Grande. Quando começa a lua cheia, ela aparece para buscar moça virgem. Enquanto a visagem vai se sumindo paras bandas de Macapá, Norato resolve: quer ver o casamento da Boiúna. A caminho das bodas, Norato pede ao vento que o deixe passar, encontra-se com o saci e com o pajé-pato que lhe arreda o mato em troca de cachaça. O herói e o tatu vão com força, nem se escondem para ver as moças tomarem banho na ponta do Escorrega. O tatu está aflito, apressado, mas Cobra Norato avisa: 'Devagar que chão duro dói'.

Na casa da Boiúna, um cururu se posta de sentinela. Norato esgueira-se pelos fundos da grota e avista a noiva, que não é ninguém menos que filha da rainha Luzia. Mas Cobra Grande acorda e começa a perseguição sem fim. Norato pede a tamaquaré, seu cunhado, que corra imitando seu rastro e entregue o seu pixé na casa do pajé-pato. Em cima da hora! Cobra Grande passa rasgando caminho. Chega à morada do pajé que lhe ensina o caminho errado: 'Cobra Norato foi pra Belém se casar'. E lá se vai a Boiúna direto para Belém. Entra no cano da Sé e fica com cabeça enfiada debaixo dos pés de Nossa Senhora. Cobra Norato volta para o Sem-fim, para as terras altas onde a serra se amontoa. Leva consigo a noiva, para estar com ela numa casa de porta azul piquininha pintada a lápis de cor. É lá que ele espera pela gente do Caxiri Grande, por Joaninha Vintém, pelo pajé-pato, por Augusto Meyer e Tarsila, por todo povo de Belém, de Porto Alegre e de São Paulo para a festa de casamento que há de durar sete luas e sete sóis.

Fonte: Internet.

Para os pré-vestibulandos

Dicas para vencer o estresse:

1 - Adote uma alimentação balanceada :

Evite alimentos gordurosos e abuse de verduras, frutas e legumes. Coma bem no café da manhã e no almoço, e faça uma refeição mais leve no jantar. Beba muito líquido ao longo do dia.

2 - Pratique exercícios físicos :

A atividade física controla a ansiedade e aumenta a autoestima. Escolha uma de que goste e comece a praticá-la aos poucos; 30 minutos, três vezes por semana, já é o suficiente. Pode ser caminhar, por exemplo.

3 - Cuide de sua saúde :

A saúde deve estar em ordem para aguentar as pressões do dia-a-dia. Quando precisar de ajuda, procure um bom profissional (médicos, psicólogos, dentistas, etc).

4 - Seja mais otimista :

Busque as atividades que lhe dão prazer. Viva intensamente os momentos de alegria. Quem pensa positivo e não valoriza as preocupações, lida melhor com as dificuldades. Pare de reclamar : as soluções para os problemas sempre aparecem.

5 - Pense de maneira positiva :

Assuma a responsabilidade e o controle da sua vida. Não adote um comportamento passivo e uma postura de vítima. Guie seu destino de acordo com seus valores e ideais. Seja mais você e preocupe-se menos com a opinião alheia.

6 - Tenha autodisciplina :

Organize seus compromissos de acordo com a sua disponibilidade. Divida seu tempo reservando um espaço para a família, amigos e lazer. Faça uma lista de prioridades nas suas atividades e elimine as desnecessárias. O tempo para o descanso e o prazer são fundamentais.

7 - Cultive amigos :

Estabelecer relações sociais é necessário para dar alegria à vida. Um ombro amigo vale para dividir as alegrias e tristezas e compartilhar momentos especiais.

8 - Durma bem :

O sono é essencial para a saúde, recarregando as energias e o bom humor. Para sentir-se bem-disposto no dia seguinte, mantenha um horário regular para se deitar e levantar, mas tente dormir cada vez mais. Começar a relaxar uma hora antes de ir para cama, garante um sono tranqüilo.

9 - Divirta-se :

Ir ao cinema, ler, cuidar do jardim, passear com o cachorro... Reserve todos os dias um tempo para o prazer. Quando se está muito ocupado, deixa-se o lazer de lado, mas o riso e a distração são importantes meios de prevenção do stress.

10 - Diga NÃO :

O mundo não vai acabar se você se negar a fazer alguma tarefa. A maioria das obrigações é estipulada por nós mesmos. Desfaça-se dos deveres aos poucos. Quando achar que deve, não pense que vai magoar as pessoas. Ao contrário, elas vão respeitá-lo, pois saberão que você valoriza seus próprios limites.

11 - Não ao fumo, álcool, café e remédios :

Cigarro, álcool, café e remédios em excesso atrapalham o metabolismo do organismo. Abandone o fumo e beba com muita moderação. O café possui cafeína, um estimulante que pode aumentar a ansiedade. O uso de medicamentos indiscriminadamente pode causar efeitos colaterais. Só tome remédios indicados pelo médico.

12 - RELAXE :

O relaxamento conduz a um estado de paz interior. As técnicas são simples, mas requerem prática diária. O importante é o prazer que o relaxamento proporciona e o aprendizado sobre o controle do corpo e da mente.

Fonte: Internet.

Literatura: Analisando as Figuras de Linguagem (Última parte)

PLANTÃO DO VESTIBULANDO

Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...

Literatura: Analisando as Figuras de Linguagem (Última parte)

Olá, pessoal! A fim de terminarmos os estudos sobre as figuras de linguagem, trouxe para vocês, nesta semana, os últimos tipos pertencentes às chamadas Figuras de construção (ou figuras sintáticas). Vamos aos estudos!!!

Paranomásia ou paronomásia é uma figura estilística que consiste no emprego de palavras parônimas (com sonoridade semelhante) numa mesma frase, fenômeno que é popularmente conhecido como trocadilho. Ex.: “Berro pelo aterro pelo desterro/ berro por seu berro pelo seu erro.” (Caetano Veloso); "Exportar é o que importa"' (Delfim Netto).

Pleonasmo é uma redundância (proposital ou não) em uma expressão, enfatizando-a. Ex.: "Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias); "E rir meu riso" (Vinícius de Moraes); etc. É o famoso “subir pra cima”, “entrar pra dentro” e muitos outros exemplos do nosso cotidiano. É interessante lembrar que, enquanto estilo literário, o pleonasmo é aceitável; mas, a partir do momento em que é empregado em uma redação, torna-se vício de linguagem e empobrece o texto.

Silepse é uma figura de construção que trata da concordância que acontece não com o que está explícito na frase, mas com o que está mentalmente subentendido. É, portanto, uma concordância ideológica, que ocorre com a ideia a qual o falante quer transmitir. A silepse pode ser de pessoa: Todos nesta sala somos gaúchos. Nesta frase, o verbo “somos” não concorda com o sujeito explícito “Todos”, que é da 3ª pessoa, portanto, a concordância "normal" seria Todos nesta sala são gaúchos. O verbo concorda com a ideia nele implícita: o falante se inclui entre os gaúchos. A silepse pode ser de número: O gaúcho é bravo e forte. Não fogem da luta. O verbo fugir – fogem – não concorda com o sujeito “o gaúcho”, e sim com o que ele representa: os gaúchos. A silepse também pode ser de gênero: Porto Alegre é linda.. Nesse caso, o adjetivo “linda” não concorda com o substantivo “Porto Alegre”, mas com a palavra cidade.

Zoomorfização (ou Animalização) é uma figura de linguagem que aproxima e descreve o comportamento humano como de um animal. Mais do que uma figura de linguagem, a Zoomorfização é uma concepção do Naturalismo. Assim, quando o homem é retratado como um animal, expressa-se a ideia da época, muito influenciada pelo Darwinismo, de que o homem não passa de um ser instintivo, consideravelmente irracional e que é condicionado pelo meio em que vive. Ex.: Trecho retirado do livro O cortiço, de Aluísio Azevedo: "(...) via-se-lhes [das mulheres] a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam suspendendo o cabelo todo para o alto do casco [couro cabeludo]; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas [narizes ou focinhos] e as barbas, fossando [revolver com o focinho] e fungando contra as palmas da mão."

Percebam que a Literatura possui recursos de expressão que “embelezam” a linguagem. Muitos escritores ficaram consagrados pelo uso exagerado de figuras de linguagem e estilização de uma literatura própria, como Guimarães Rosa, por exemplo. É isso aí, pessoal. Até a próxima! E, para quem fará a prova do Novo Enem, Boa Sorte!!!

JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 04/12/2009.

Figuras de Linguagem – Parte III

PLANTÃO DO VESTIBULANDO

Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...

Figuras de Linguagem – Parte III

Olá, pessoal! Nas edições anteriores, aprendemos um pouco mais sobre a Literatura, no tocante às chamadas Figuras de Linguagem. Vimos que os estudiosos as dividem em 2 ou 3 grupos a fim de facilitar os estudos. Agora, aprenderemos sobre a última etapa de classificação das figuras de estilo: Figuras de construção (ou figuras sintáticas).

Aliteração é uma figura de linguagem que consiste em repetir sons consonantais idênticos ou semelhantes em um verso ou em uma frase. Mas não se trata de simples sonoridades destituídas de conteúdo. Geralmente, a aliteração sublinha (ou introduz) determinados valores expressivos, nem sempre facilmente descritíveis.

Exemplo: “Em horas inda louras, lindas/ Clorindas e Belindas, brandas/ Brincam nos tempos das Berlindas/ As vindas vendo das varandas” (Fernando Pessoa).

Esta estrofe é um exemplo soberbo do uso expressivo da aliteração das letras: l; d; b; v.

Assonância é uma figura de linguagem que consiste em repetir sons de vogais em um verso ou em uma frase. Exemplos: Ó Formas alvas, brancas, Formas claras — Cruz e Sousa (assonância em A); A mágica presença das estrelas! — Mário Quintana (assonância em A).

Anacoluto, ou frase quebrada, é uma figura de linguagem que, segundo a retórica clássica, consiste numa irregularidade e na regularidade automática muito expressiva. É como se começássemos uma frase e houvesse uma mudança de rumo no pensamento - por exemplo, através do desrespeito das regras de concordância verbal ou da sintaxe. Exemplo: "O homem, chamar-lhe mito não passa de anacoluto" (Carlos Drummond de Andrade).

Anáfora é a repetição da mesma palavra ou grupo de palavras no princípio de frases ou versos consecutivos. É uma figura de linguagem comuníssima nos quadrinhos populares, música e literatura em geral, especialmente na poesia. Exemplo: Nem tudo que ronca é porco,/ Nem tudo que berra é bode,/ Nem tudo que reluz é ouro,/ Nem tudo falar se pode.

Assíndeto é uma figura de estilo que consiste na omissão das conjunções ou conectivos (em geral, conjunções copulativas), resultando no uso de orações justapostas ou orações coordenadas assindéticas, separadas por vírgulas. É uma figura de sintaxe, por omissão, tal como a elipse e o zeugma. Por exemplo, em Os Lusíadas, de Camões, podemos ler: "Fere, mata, derriba denodado...". Outro exemplo aparece no Cântico Negro de José Régio: "Tendes jardins, tendes canteiros,/Tendes pátrias, tendes tectos".

Polissíndeto é o emprego repetitivo da conjunção entre as orações de um período ou entre os termos de oração, tornando-se, portanto, o contrário da figura anterior. Ex.: "E sob as ondas ritmadas/ e sob as nuvens e os ventos/ e sob as pontes e sob o sarcasmo/ e sob a gosma e sob o vômito".

Elipse é a supressão de uma palavra facilmente subentendida. Consiste da omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto ou por elementos gramaticais presentes na frase com a intenção de tornar o texto mais conciso e elegante. Exemplo: "No mar, tanta tormenta e tanto dano." (em "Os Lusíadas" de Camões) - onde se omite o verbo "haver" , ainda que seja óbvia a intenção do autor.

É isso aí, pessoal! Na próxima, terminaremos nossos estudos sobre as figuras de linguagem. Até lá.

JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 27/11/2009.