PLANTÃO
DO VESTIBULANDO
Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...
ESTUDANDO
PARA O ENEM: ANÁLISE DE TEXTOS - V
Olá,
pessoal! Continuando nossas análises de textos que têm ocorrido semanalmente
aqui na coluna Plantão do Vestibulando, pensemos: ao longo do século XIX
tivemos o surgimento dos ideais românticos, conforme vimos anteriormente, mas,
o que mais houve de produção literária naquele século? Leiamos o fragmento
abaixo:
(...)
E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o
papel devotamente!
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!
Ergueu-se de um salto, passou
rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda
manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há
prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranquilidade outonal; o sol cai
largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e
o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e
já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora.
Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são,
contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam
ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho; achou a pele mais
clara, mais fresca, e um enternecimento úmido no olhar; seria verdade então o
que dizia Leopoldina, que “não havia como uma maldadezinha para fazer a gente
bonita?” Tinha um amante, ela! (...) (Eça de Queirós, In: O Primo Basílio).
Ao
iniciarmos a leitura do texto acima, o fato de uma personagem estar recebendo
sentimentalidades num bilhete nos remete ao estilo romântico. As descrições que
se seguem a respeito da manhã e do ambiente também confirmam isso: a linda
manhã, o calor, a luz, a tranquilidade outonal, o azul do céu, a respiração
mais livre, enfim, tudo isso mostra uma certa valorização dos elementos
naturais. Desta forma, acabamos por lembrar a primeira fase da poesia romântica
do século XIX, na qual o Nacionalismo veio dar ênfase a essas belezas naturais.
Logo
em seguida, somos surpreendidos por um grande símbolo: o do espelho. Segundo o
Dicionário de Símbolos de Chevalier e Gheerbrant (2009), a palavra espelho tem
sua origem no vocábulo speculum, o
qual também originou especulação: originalmente, especular era observar o céu.
Por ser uma superfície que reflete, o espelho é dotado de muito simbolismo e
conhecimento. Representa a verdade, está ligado a utilizações mágicas e de
adivinhações, reflete uma imagem, mostra as faces da alma, simboliza
consciência. Desta forma, Luísa, no trecho de Eça de Queirós, olha-se e toma
partido de sua beleza, ao passo que reflete sobre suas atitudes. A personagem
se volta para o espelho, acha sua pele mais clara, o que permite um “ar” de
maior beleza: Luísa nunca havia se visto tão bela!
Quase
uma idealização romântica da mulher. Entretanto, a “maldadezinha” da personagem
e sua declaração final de que possuía um amante quebram toda a expectativa de
uma prosa do Romantismo. É apenas no estilo chamado de Realismo que a
personagem feminina começa a se soltar das “amarras” culturais e sociais, sendo
capaz de cometer delitos, trair, ser livre. Portanto, não devemos nos deixar
enganar pelas aparências. O texto acima é realista, e apenas um detalhe muda
toda a interpretação. É isso, pessoal. Até a próxima...
JULIANA BARRETO
– Profª de Língua Portuguesa
*Matéria publicada no Jornal A Semana, de Pirapora-MG, por Juliana Barreto Profª de Língua Portuguesa, formada em Letras pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Contato: ahhfalaserio@hotmail.com Página no Facebook: http://www.facebook.com/nossaquefacil
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