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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Figuras de palavras e figuras de pensamento: (Parte II)


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PLANTÃO DO VESTIBULANDO
Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...
Figuras de palavras e figuras de pensamento: (Parte II)
Olá, pessoal! Retomando os estudos de Literatura, daremos sequência (sem trema!) às figuras de linguagem. Vamos lá?
Enumeração é uma figura de estilo que consiste na sequencialização de várias palavras, sintagmas ou orações e que tem como propósito uma intensificação do ritmo do discurso. Ex.: "Ouvi: que não vereis com vãs façanhas Fantásticas, fingidas, mentirosas (...)" (Camões, Os Lusíadas).
Gradação é uma figura de estilo relacionada com a enumeração, onde são expostas determinadas ideias de forma crescente (em direção a um clímax) ou decrescente (anticlímax). Exemplos: “Tudo começou no meu quarto, onde concebi as ideias que me levariam a dominar o bairro, a cidade, o país, o mundo... E a desejar o próprio Universo...” (progressão ascendente). “Meu caro, para mim, você é um simples roedor. Que digo? Um verme... Menos que isso! Uma bactéria! Um vírus!...” (progressão descendente).
Hipérbato, também conhecido como inversão, é uma figura de linguagem que consiste na troca da ordem direta dos termos da oração (sujeito, verbo, complementos, adjuntos. Ex.: "Não a Ti, Cristo, odeio ou te não quero." (Fernando Pessoa); "Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais flores" (Hino Nacional Brasileiro).
Hipérbole é a figura de linguagem que incide quando há demasia propositada num conceito expresso, de modo a definir de forma dramática aquilo que se ambiciona vocabular, transmitindo uma ideia aumentada do autêntico. Ex.: "Já te ressalvei mais de mil ocasiões, para não retrocederes a proferir-me elevado!". "Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac). "Você me faz morrer de rir". “Estou morrendo de fome!"
Ironia é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa. Ex.: Mariazinha, doce menina, já não a suporto mais!
Metáfora é uma figura de estilo que consiste na comparação de dois termos sem o uso de um conectivo. Ex.: "Amor é fogo". “Meu coração é um balde despejado”.
Metonímia é uma figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles. Há várias formas de usos, dentre elas: Efeito pela causa: Sócrates tomou as mortes. (O efeito é a morte, a causa é o veneno); Marca pelo produto: O meu irmãozinho adora danone. (Danone é a marca de um iogurte; o menino gosta de iogurte); Autor pela obra: Lemos Machado de Assis por interesse. (Ninguém, na verdade, lê o autor, mas as obras dele em geral.), etc.
Onomatopeia é uma figura de linguagem na qual se imita um som com um fonema ou palavra. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas, etc. Ex.: Ai! –dor; Ah! – grito; Rá Rá Rá ! – riso; Atchim! – espirro; Bang! – tiro; Buáá! – choro.
Paradoxo é o confronto de ideias opostas e simultâneas . Ex : Todos ouviam, atentos, o silêncio do famoso político. (Ouvir o silêncio é uma contradição e, portanto, paradoxo).
É isso aí. Até a próxima, com mais figuras de linguagem.

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JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 20/11/2009.

Como anexo a este artigo, acrescento um pouco de interpretação de texto, analisando a letra da música “Preciso dizer que te amo”, do Cazuza. 

Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei em que hora dizer
Me dá um medo, que medo

Observe que, até aqui, já há indícios de que existe uma amizade entre o eu-lírico (a voz do poema) e seu interlocutor (no caso, a pessoa amada). Esses indícios podem ser percebidos em pistas como “a gente conversa”, “contando casos, besteiras”, etc. 
Ao mesmo tempo, quando lemos a frase “e eu não sei que horas dizer”, já temos a primeira pista de que o eu-lírico possui um sentimento que vai além da amizade. 

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto

É no refrão que ele se declara, mesmo sabendo os riscos desse ato. Na parte em que se diz “te ganhar ou perder”, podemos inferir que o eu-lírico está ciente de que há riscos de seu amor ser mal compreendido pela amada, já que eles são amigos. 
O acréscimo do vocábulo “tanto”, nesse terceiro verso, em comparação ao primeiro do refrão, permite-nos depreender que o eu-lírico vai tecendo análises sobre seu próprio sentimento, de maneira ascendente, tal qual ocorre na figura de linguagem “gradação”. Como se, em seus pensamentos, pensasse “eu te amo”, mas, depois, concluísse “não, é mais, eu te amo tanto”. 
Essa reflexão se dá pelo fato de haver um clímax dos sentimentos que são apresentados. 


E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo

Aqui as metáforas começam a se fazer presentes. O “tempo que passa arrastado” metaforiza os bons momentos em que eles passam juntos. Essa ideia vai na contramão do que geralmente ocorre com os bons momentos vividos, uma vez que as pessoas, geralmente, reclamam de que “tudo que é bom dura pouco”. Nesses versos, o eu-lírico evidencia que até o tempo contribui para que ele fique ao lado da amada, passando devagar para que eles possam estar juntos o máximo de tempo. 
Em “você me chora dores de outro amor”, é possível ver, mais uma vez, a presença das pistas da amizade existente entre o eu-lírico e o interlocutor - a amada. Em relações de amizade, é comum que um conte ao outro casos amorosos, e esses desabafos são formas de alívio para quem relata os fatos. Mas, também na contramão do comum, o eu-lírico não suporta ouvir os casos amorosos da amada, o que se compreende pela expressão “acaba comigo”. 
A “novela” de que trata o final da estrofe permite fazer uma analogia com a própria estrutura das novelas (como gênero literário épico). A novela possui, em sua grande parte, um triângulo amoroso como tradição, no qual dois homens disputam o amor da donzela, sendo, geralmente, um deles o “vencedor”. Em “Amor de perdição” livro clássico romântico de Camilo Castelo Branco, temos duas mulheres disputando o amor do mesmo homem, numa situação inusitada em relação à tradição dos triângulos amorosos. As novelas, que são estruturas narrativas tais quais os romances, divergem-se destes pelo maior número de núcleo de personagens. Independentemente disso, é na estrutura da novela que costumamos ver dramas amorosos a três. 

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo tanto

Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Tentando achar em cada gesto uma bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira

No verso “eu já nem sei se eu tô misturando”, é possível perceber a confusão mental vivida pelo eu-lírico e que é típica das relações de amor não correspondido. 
Há, no terceiro verso, a metáfora de “dar bandeira”, no sentido de estar acenando, estar evidenciando, estar mostrando algo às claras. É como se, ao procurar se lembrar das conversas com a amada, o eu-lírico ficasse tentando encontrar pistas que entregassem o amor dela por ele, ou seja, que demonstrassem às claras que ela também o ama. 
Um recurso imagético interessante ao final da estrofe é o de “fechar e abrir a geladeira”. Conseguimos, como leitores e partícipes do processo de construção de sentido do texto, imaginar perfeitamente a cena, vendo o eu-lírico obnubilado, pensando na amada, indo à geladeira sem sentir fome, apenas na ação automática de procurar reflexões, de buscar uma saída para a sua situação. 

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É eu preciso dizer que eu te amo tanto


Compositor: Cazuza / Bebel Gilberto / Dé

É importante considerar que as interpretações de textos literários requer amplificação das possibilidades de leitura e não fechamento. 
Isso significa que, em determinados momentos, é preciso lançar mão de abstrações, figurações, simbolismos, etc a fim de conseguir atingir mais profundamente as possibilidades de interpretação do texto. 


Juliana Barreto é mestra em Letras/Estudos Literários  (2015) pela Unimontes. 


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