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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Paraísos Artificiais – Parte II

PLANTÃO DO VESTIBULANDO


Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...

Paraísos Artificiais – Parte II



Olá, pessoal! Nesta semana, continuaremos a análise de “Paraísos Artificiais”.

O conto “O companheiro de quarto” traz uma contradição entre o título e a história, uma vez que fala a respeito de dois jovens que dividem o mesmo quarto, porém mal se falam, fato que distorce a ideia que temos sobre companheirismo. O narrador em primeira pessoa mostra sua implicância para com o companheiro, a ponto de desfazer da única companhia que este possuía: uma planta. Símbolo da energia vital e do nascimento perpétuo, a planta é carregada de simbologias neste conto e mostra a barreira criada pelo narrador entre a sua vida e a do colega. Enfim, o conto vem evidenciar o lado obscuro do ser humano: a sua maldade, a sua inveja e o seu egoísmo.

“Coisa de família” fala sobre um jovem que está morando fora de seu país e é convidado para passar o Natal com o vizinho. A sensação de exclusão se dá não só pelo fato de o jovem narrador ser um estrangeiro longe de sua terra, mas, principalmente, por sentir-se “estrangeiro” dentro dessa família, que possui seus problemas, seus segredos e não quer compartilhá-los com o convidado. A sensação de exclusão e a agonia de estar se sentindo como “um peixe fora d’água” perpassam todo o enredo, misturadas à evidente artificialidade das relações familiares.

“O 921” é um dos contos mais complexos e que mais mostram influências de Franz Kafka. O mistério gerado a partir do encontro do narrador com um senhor que o convence a tomar outro ônibus é o que move o enredo rumo ao fantástico, em que o leitor perde a noção da linha que divide o sonho e a realidade dos personagens. O caos se faz a partir do momento em que o senhor morre, o narrador vai à delegacia e depois é levado em um carro, numa situação em que só é possível levantarmos hipóteses, mas jamais termos certeza do desfecho da história.

Assim como o conto “Coisa de família”, “O primo” também mostra uma situação de um jovem que se sente “deslocado” da realidade da casa. É criada, ao longo da narrativa, a espera do encontro entre os primos, o que acaba por frustrar o leitor quando tal encontro se dá de forma tão “fria” e debochada. O personagem de Ivan, através das várias vezes em que aparece de frente para o espelho, parece procurar a si mesmo. Trata-se da sua busca pela identidade, antes baseada em uma admiração ao primo Reginaldo e, depois, na tentativa de não se deixar abalar pelos deboches dele.

“Os Sonetos Negros” conta a história de uma estudante chamada Tânia, que resolve pesquisar sobre a vida de Matilde Fortes, uma escritora famosa já falecida. Aqui, o processo de verossimilhança (aproximação da verdade) cumpre o seu papel destacando nomes da realidade, como José Lins do Rego e Raquel de Queiroz, misturados à ficção do enredo. Em um diário, Tânia narra detalhes sobre sua pesquisa até descobrir que Matilde Fortes não foi a autora dos Sonetos Negros, e, sim, o viúvo Gastão Fortes. A aventura acontecida na pequena cidade de São Dimas (“padroeiro dos ladrões”) confirma que a literatura é ficção, é artificial, como os tantos paraísos artificiais buscados por qualquer ser humano que pretende refugiar-se da realidade.

É isso aí... Até a próxima!

JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 29/05/2010.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

XI ForroFam

Olá,pessoal.. está chegando o XI ForroFam do Colégio N. Sra. do SS. Sacramento.
Será às 18:00 do dia 03 de julho. Aguardo vocês para muita alegria,forró,caldão e tudo o que temos direito!!!!
Até lá...

Eu vou!!!!!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Paraísos Artificiais – Parte I

PLANTÃO DO VESTIBULANDO


Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...

Paraísos Artificiais – Parte I



Olá, pessoal! Prosseguindo nos estudos e análises de obras literárias do processo 2/ 2010 da UNIMONTES, vejamos as características principais de Paraísos Artificiais, do escritor Paulo Henriques Britto.

A começar pelo título, vejamos: o paraíso remete à ideia do estado de graça, antes da queda do homem; é o centro imutável, o conforto desejado por todo ser humano. Porém, quando pensamos na palavra “artificial”, logo se percebe que esse mundo incrível edênico se desfaz. O que não se pode esquecer é que um dos objetivos do livro é apresentar ao leitor a relatividade do que chamamos de “real” ou do que chamamos de “felicidade”.

Os paraísos artificiais: o primeiro conto do livro (com o mesmo nome) convida o leitor, numa interação interessantíssima, a refletir sobre qual seria a posição mais confortável, se deitado em uma cama, ou se sentado em uma cadeira. Através de reflexões, o narrador vai discutindo as posições, as possíveis dores que a permanência em uma mesma posição poderia causar, situa a quebra da inércia como algo prazeroso, quase orgástico, até concluir que o melhor a se fazer é sentar-se em uma cadeira e começar a escrever. Num processo de metalinguagem (a escrita que se pronuncia sobre si mesma), o narrador coloca o ato da escrita como o responsável pela quebra da inércia, aquilo que nos tira do comodismo e nos remete ao mundo das ideias.

Uma doença: percebemos neste segundo conto que a luta inércia X mobilidade é travada, mais uma vez. Aqui, o narrador, o qual possui uma doença que o mantém deitado na cama, impossibilitado de levantar-se, procura ocupar o seu tempo observando, com riqueza de detalhes, as características do seu quarto: paredes, lençol, etc. Até que, após se cansar disso, passa a se ocupar com as mudanças do seu próprio corpo. O seu campo de visão é mínimo, pois, deitado em seu espaço, ele jamais conseguirá absorver as imagens que estão fora do alcance da sua visão. Isso remete também ao comodismo, à visão ingênua, a estar preso em um “mundo particular” longe da realidade do universo. O personagem chega à conclusão de que o mistério é indecifrável, simbolizando a eterna busca humana pelo conhecimento.

Em Uma visita, o protagonista (narrador em 1ª pessoa) está pronto para dormir e escuta ser chamado pelo nome. Trata-se de uma visita inesperada. O conto todo se passa com o narrador à janela,vendo a visita que o chama, porém não atende. Ele permanece parado, fazendo questionamentos a si mesmo sobre quem seria a visita, se a conhecia, o que a visita poderia estar pensando, mas não se move. A inércia, repetidamente, aparece também neste conto. O interessante a ser observado aqui é que tanto a visita quanto o narrador são personagens não nomeados. A falta de um nome pode ser atribuída à generalização (como se qualquer pessoa estivesse propensa a passar por aquela mesma situação), mas, ao mesmo tempo, ao mistério que o autor quer passar, à moda kafkiana.

Um criminoso é mais um exemplo de personagens soturnos, que ficam acordados à noite, solitários, pensativos, melancólicos. O protagonista vai tirando conclusões a respeito das cenas que vê pela janela, um casal namorando, um jovem que quer atravessar a rua, uma mulher na sacada do apartamento de um prédio em frente, inclusive imaginando cenas de crimes misteriosos e aparentemente sem motivos. Até que a ilusão se confunde com a realidade e o personagem se vê dentro da sua própria imaginação. Por enquanto é só, pessoal. Na próxima semana tem mais! Até lá.



JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 21.05.2010.

Uma abordagem kafkiana

PLANTÃO DO VESTIBULANDO


Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...


Uma abordagem kafkiana





Olá, pessoal! Ao analisarmos a obra Por trás dos vidros, de Modesto Carone, na semana passada, verificamos que existe muita influência de Franz Kafka no livro. Além disso, o autor checo também influenciou a obra Paraísos Artificiais, de Paulo Henriques Britto, a qual será estudada numa próxima edição do Plantão do Vestibulando. Agora, iremos entender um pouco melhor sobre essa influência kafkaniana (ou kafkiana, se preferirem) nessas duas obras. Vamos lá?


Primeiramente, precisamos entender que Franz Kafka pertenceu ao Expressionismo, movimento artístico que se caracterizava pela expressão de intensas emoções. As obras desse estilo não têm preocupação com o padrão de beleza tradicional e exibem enfoque pessimista da vida, marcado por angústia, dor e inadequação do artista diante da realidade. Iniciado no fim do século XIX por artistas plásticos da Alemanha, o Expressionismo alcançou seu auge entre 1910 e 1920 e expandiu-se para a literatura, a música, o teatro e o cinema. Na literatura, o movimento é marcado por subjetividade do escritor, análise minuciosa do subconsciente dos personagens e metáforas exageradas ou grotescas. O estilo é abstrato, simbólico e associativo.


O estilo expressionista de Franz Kafka caiu no gosto de muitos escritores do nosso Modernismo Literário. Como exemplo, citamos os autores Modesto Carone e Paulo Henriques Britto, de Por trás dos Vidros e Paraísos Artificiais, respectivamente. Em ambos, conseguimos notar as características gerais das obras de Kafka: símbolos ligados ao absurdo e ao cotidiano, ao mesmo tempo. Todos os livros de Kafka obrigam indiretamente o leitor a uma releitura. Seus principais acontecimentos e sua história como um todo sugerem explicações, mas nunca uma certeza sobre essas questões. É necessária uma nova leitura com um novo enfoque, para que o leitor possa entender todos os símbolos: seus personagens absurdos, em situações fantásticas que beiram ao onírico (sonho).


Não se pode esquecer que em Kafka o absurdo, em momento algum, adquire aquele tom característico de contos fantásticos. Pois, na obra Kafkaniana, o absurdo é simbolizado por acontecimentos cotidianos que, vistos de uma maneira geral, são normais à sociedade. Situações extremamente realistas que, no entanto, nos conduzem para uma perda de sentido. Assim, conseguimos entender por que nas obras de Carone e Britto a naturalidade diante da morte é constante. Além disso, fica bastante visível a presença das características de Kafka nos mistérios, nos contos que terminam de repente (sem “fechar” totalmente o texto), nas situações estranhas e absurdas, como o de se refugiar na caixa d’água ou observar o crescimento dos pelos do próprio corpo, na presença de personagens solitários e, principalmente, na visão pessimista da vida, na maneira estática e acomodada de olhar o mundo, refugiar-se em vez de ir atrás de uma mudança e aceitar o incômodo como se merecesse o pior e fosse digno do sofrimento.


É esse mergulho dentro do EU, evidenciando as fraquezas, loucuras e delírios do homem moderno que se faz marcante em Kafka e em seus admiradores.

É isso aí, pessoal. Até a próxima!

JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 14.05.2010.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A simbologia em Por trás dos vidros

PLANTÃO DO VESTIBULANDO


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A simbologia em Por trás dos vidros



Olá, pessoal! Nesta semana, trago para vocês a análise das simbologias presentes na obra Por trás dos vidros, de Modesto Carone.

Ao analisarmos o título do livro, logo percebemos um grande símbolo a ser desvendado: o vidro. Assim como o espelho, o vidro remete à distorção da imagem; uma imagem contrária da realidade e, muitas vezes, bagunçada, não nítida, esfumaçada. Literariamente, isso quer dizer que o autor nos faz pensar sobre as (falsas) impressões que temos da vida; sobre a nossa forma particular de enxergar o que é bom ou ruim, certo ou errado. Trata-se, portanto, de um mergulho em nosso ser, em nossa consciência, uma autoanálise, o que é chamado, na análise literária, de Mise-en-abime: aprofundar-se no abismo... no abismo de nós mesmos.

Outro símbolo muito presente na obra de Carone são as nuvens. Elas remetem à abstração, às circunstâncias obscuras, complicações, inquietudes. As nuvens aparecem, por exemplo, no conto “O natal do viúvo”, em que há uma negação total da realidade: constroem-se e destroem-se ideias e acontecimentos; pessoas aparecem e desaparecem magicamente; uma campainha toca e, ao mesmo tempo, é descrita como muda. A presença das nuvens vem confirmar essa ausência sentida pelo personagem, uma solidão incômoda e angustiante, algo, inclusive, presente em todo o livro.

Asfalto, concreto, a cor cinza e o metal são símbolos relacionados à urbanização. E, consequentemente, ao dinamismo, à violência, aos perigos, à frieza da cidade. E o relógio, muito presente em várias partes do livro, simboliza o passar do tempo, o inevitável desenrolar da vida e a aproximação da futura morte.

Em “Ponto de vista”, é narrada a história de um homem que trabalhava agachado, embaixo da mesa do escritório. Além de ser uma situação estranha e cômica, é também carregada de simbologias. É possível fazer aí uma analogia com a “Alegoria da caverna”, de Platão, na qual ele fala sobre homens que viviam aprisionados numa caverna, sem nunca ter visto nada além de sombras refletidas nas paredes. Quando um homem consegue sair da caverna, seus olhos se ofuscam com a claridade. É, ao mesmo tempo, uma descrição do comodismo das pessoas em não querer abandonar seu “mundo” e a angústia inicial causada pela mudança de ambiente e comportamento.

Esse comodismo também é retratado pela imobilidade dos personagens do livro. Muitos aparecem acomodados a uma situação, totalmente estáticos, como o que está numa cama há tanto tempo que sente como se ela fosse um prolongamento do seu corpo (“A força do hábito”), um homem que convive com um tiroteio no jardim de sua casa, impedindo-o de sair, mas que não faz nada para mudar sua realidade (“Dias melhores”), ou ainda o protagonista de “O espantalho”, o qual encontra um cadáver de um enforcado dentro do seu guarda-roupa, não se espanta e segue sua vida normalmente.

Essa visão natural e apática em relação à morte é um ponto importante da obra. Além disso, temas como sexo, a loucura e uma análise sobre a velhice também se fazem presentes. Mas o ponto crucial se encaixa no grau de ficcionalidade, chegando ao fantástico, que perpassa todo o livro de Modesto Carone. Atitudes irreais como a do homem que passa a viver numa caixa d’água, em “Reflexos”, mostram a fabulação exagerada da obra.

É isso. Até a próxima!
JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 07/05/2010.

Sagarana – Última parte

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Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...



Sagarana – Última parte

Olá, pessoal! Dando continuidade às análises da obra Sagarana, de Guimarães Rosa, vejamos os últimos contos presentes no livro.

Em Minha gente, o narrador em primeira pessoa vai descrevendo os animais, seus costumes, a paisagem e, ao mesmo tempo, etapas de um jogo de xadrez, disputado com Santana. Ao visitar a fazenda de Tio Emílio, o qual entrara para a política, o narrador se encanta por Maria Irma, sua prima. Irma, já apaixonada pelo namorado da amiga, consegue fazer com que o primo se case com Armanda. Assim, Ramiro fica livre para se casar com Irma.É interessante notar o jogo de interesses, o qual se dá também na política.

São Marcos retrata um personagem chamado José, que não acredita em feiticeiros, porém se vê vítima de um vudu, ficando cego por alguns instantes quando o feiticeiro João Mangolô coloca uma venda nos olhos do descrente através de uma foto. A reza de São Marcos é o que liberta o narrador. Por narrar a história de um personagem que fica temporariamente cego, é interessante verificar a importância do recurso visual no conto. Ao sair de perto de Mongolô, José olha a paisagem e se encanta com as maravilhas da natureza.

Em Corpo Fechado, Manuel Fulô fica noivo com Das Dor, mas Targino, grande valentão do lugar, resolve ir visitá-la e ameaça o rival de morte. Seu Antonico das águas fecha o corpo de Manuel, o qual mata Targino, tomando para si o posto de valentão.

Conversa de bois, como o próprio nome já diz, evidencia a conversa de bois ao longo de uma viagem num Carro-de-boi que está carregando o corpo do falecido pai de Tiãozinho. Os bois conversam sobre vários assuntos, contam “causos”, refletem sobre a vida, sobre os pastos, sobre o que os homens têm de bom e de ruim. Falam sobre tristeza, calor, fome, medo, pressa. O menino Tiãozinho pensa na raiva que sente de Agenor, homem responsável pelas contas da casa e com quem a mãe do menino passou a ter um relacionamento desde que o marido ficara doente. Agenor despertou em Tiãozinho um ódio por causa dos castigos físicos e das humilhações. Os bois fazem com que Agenor caia do carro e seja atropelado, morrendo. E, no final, até o carro fica mais feliz.

No último conto, A hora e a vez de Augusto Matraga, o protagonista perde toda a sua riqueza, os seus capangas, sua mulher e sua filha por causa de jogo e boemias. Passa da condição de senhor a um miserável, levando uma surra dos capangas do Major Consilva, sendo marcado a ferro em brasa, até que se precipita em um abismo. Aqui, a simbologia do abismo diz respeito à travessia, à mudança de vida. Augusto morre de forma simbólica para renascer um homem novo. Abraça o Cristianismo, redime-se dos pecados, supera várias tentações de voltar a ter o poder, de vingar-se dos inimigos, e, por fim, morre, chegando a sua hora e vez de ir para o céu.

Em Sagarana, ocorre comumente o uso de palimpsesto – palavra que designa um pergaminho (ou papiro) cujo texto foi eliminado para permitir a reutilização (Wikipedia). Na literatura, o termo é usado para designar o recurso narrativo de adentrar uma história em outra, formando, em uma só narrativa, várias histórias. É isso aí, pessoal, até mais!


JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 30/04/2010.

Sagarana – Parte II

PLANTÃO DO VESTIBULANDO


Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...



Sagarana – Parte II

Olá, pessoal. Conforme havia prometido, trago nesta semana mais um pouco de análise sobre a obra Sagarana, de Guimarães Rosa. Vamos lá?

O primeiro conto, O Burrinho Pedrês, traz a história de Sete-de-ouros, um burro já velho, cansado e quase cego, mas responsável pela salvação de dois personagens numa travessia pela enchente. O Major Saulo sai com seus vaqueiros levando o gado, fazendo com que um de seus homens monte o burrinho. Todos fazem pouco caso do animal, devido à sua velhice e má aparência. O pio do João-corta-pau é indício de um mau agouro que estaria por vir. Trata-se da enchente, a qual já havia matado muitas pessoas e animais. Ao contrário do previsto, o burrinho é o único que se salva do gado, salvando também a vida de dois vaqueiros que o acompanhavam. É uma história cheia de fabulação, em que o personagem do Sete-de-ouros toma o papel de herói. Além disso, percebem-se vários recursos estilísticos usados por Guimarães Rosa, principalmente no tocante à musicalidade: Ditados populares, como “Quem vai na frente bebe a água limpa”; uso de aliterações (repetição de sons consonantais), como em “três trons de trovões”, “Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando ... dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito ... vai, vem,volta, vem na vara, vai não volta, vai varando”; e até mesmo uma rima que lembra uma ladainha, prece religiosa:” (...) pela ponte nebulosa por onde os burrinhos sabem ir, qual a qual sem conversa, sem perguntas, cada um no seu lugar, devagar, por todos os séculos e seculórios, mansamente amém”.

A volta do marido pródigo mostra o sabido Lalino, que abandona a mulher para viver em boemia na capital, mas retorna e consegue conquistá-la de novo, mesmo depois de ela ter ido morar com um espanhol. O que chama atenção neste conto é a capacidade de persuasão do personagem, o qual também usa sua lábia para conseguir a confiança do Seu Marra, seu primeiro patrão, e do Major Anacleto, de quem foi cabo eleitoral. O conto é dividido em nove partes as quais lembram os atos de uma peça teatral, pois, cada vez que termina uma parte, é como se as cortinas se fechassem para abrir novamente, numa nova cena.

Em Sarapalha, dois primos doentes conversam em uma linguagem tipicamente regional, trocando opiniões sobre diversos assuntos, ajudando-se a suportar os sintomas da doença. Primo Argemiro se mostra muito amigo e fiel ao Primo Ribeiro, ajudando-o em tarefas simples as quais o amigo já não tinha condições de fazer sozinho, como beber água, embrulhar-se, deitar-se, levantar-se. Argemiro confessa ao primo que amou Luísa, ex-mulher de Ribeiro a qual fugiu com outro havia algum tempo. Ao saber disso, tomado pelo ciúme, Primo Ribeiro expulsa Argemiro da fazenda. Neste conto, fica clara a mudança de posicionamento quando se está com ciúme, uma vez que, nesse momento, Ribeiro já não se importava com a ajuda do primo.

Em Duelo, Turíbio Todo surpreende a mulher na cama com Cassiano Gomes. Sabendo que estava fisicamente em desvantagem, Turíbio prefere esperar outra oportunidade para matar o rival. Muitos dias se passam sem que os rivais se encontrem, até que Cassiano fica doente, conhece Timpim Vinte-e-um e cria uma amizade com ele. Cassiano morre, mas Timpim cumpre sua promessa, matando Turíbio. É interessante observar que temas como vingança, traição cometida tanto por homem quanto pela mulher, propósito de “lavar a honra com sangue”, etc., são temas comuns no mundo regional, muito retratados por Guimarães Rosa.

É isso aí. Na próxima veremos os demais contos. Até lá.
JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 23/04/2010.

Saga + Rana = À maneira de uma saga

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Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...



Saga + Rana = À maneira de uma saga



Olá, pessoal! Dando continuidade às análises literárias das obras da Unimontes, veremos alguns comentários sobre a obra Sagarana, de Guimarães Rosa. Vamos lá?

Publicada em 1946, Sagarana constitui uma obra introdutória da mágica prosa literária de Guimarães Rosa. O título vem de “saga”, um radical germânico que significa “canto heroico”, e “rana”, que, na linguagem indígena, significa “à maneira de”. A obra é formada de nove contos (também chamados de novelas por alguns estudiosos) que recriam ficcionalmente personagens típicos do interior de Minas Gerais. Também por esse motivo o livro é tido como “regionalista”, pertencente à 2ª fase do Modernismo brasileiro. Além disso, outras características ratificam o regionalismo presente nos contos: as histórias possuem folclore, provérbios, cantigas do sertão, os personagens falam com coloquialismos e regionalismos mineiros, além de ter a presença de quadrinhas populares.

Alguns dos temas gerais do livro são: o crescimento pessoal dos personagens; um instante que parece valer por toda uma vida; ideia de travessia; morte; traição; vingança; sabedoria; lição de vida; etc. É importante observar que os contos apresentam um poder extraordinário de fabulação: são narrativas repletas de casos fantásticos, imaginários, o que proporciona aos contos um tom épico e/ou de conto de fada.

Uma das características marcantes do autor é a presença inovadora de neologismos = palavras novas, criadas pelo próprio autor. Uma questão de estilo. Mas, para isso, muitas técnicas são usadas por Rosa nesse processe de criação. Exemplos:

Derivação prefixal = acréscimo de prefixo ao início da palavra. Ex.: des + feliz = desfeliz; des + enxergar = desenxergar.

Derivação sufixal = acréscimo de sufixo ao final da palavra. Ex.: assim + Zinho = assinzinho; quilômetro + osa = quilometrosa; saudade + ear = saudadear.

Derivação parassintética = acréscimo de prefixo e sufixo ao mesmo tempo. Ex.: avoamento; esmoralizado; amaleitado.

Abreviação = processo de diminuição da palavra, suprimindo letras e fonemas. Ex.: estranja (estrangeiro); vam’bora (vamos embora).

Composição justaposta = união de palavras, sem perda nem ganho de fonemas. Ex.: mulheres-atoa; todo-o-mundo.

Composição aglutinada = união de palavras com ganho ou perda de fonemas. Ex.: passopreto = pássaro preto; suaviloquência = suave + eloquência; destamanho (deste + tamanho). Observem como o coloquialismo está presente na obra!

Arcaísmos = palavras que deixaram de ser usadas por serem antigas demais e caíram em desuso. Ex.: riba = cima; bando = lado; vigiar = olhar; além de inúmeras palavras coloquiais usadas antigamente com o A na frente, tais como: alembrar; alumiar; amostrar; arreconhecer; arrenegar; arresolver; arresistir; aclivertir; etc.

Além de todos esses elementos que fazem do estilo de Guimarães Rosa algo único em nossa literatura, existem ainda em Sagarana outros recursos típicos do autor, como a musicalidade. Rimas, ritmo, aliterações e assonâncias são usadas para dar mais música à obra. Na próxima semana, veremos um pouco mais sobre ela. Até lá.


JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 16/04/2010.

Cobra Norato – Parte II

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Cobra Norato – Parte II




Olá, pessoal! A fim de explicar um pouco mais sobre o livro Cobra Norato, de Raul Bopp, vejamos algumas simbologias e explicações de lendas presentes no livro:




Serpente = símbolo universal e complexo. Pode representar morte, destruição, mal, uma essência rastejante de penetração e também veneno. As cobras sofrem o processo da troca de pele e esse é um evento que desperta a curiosidade já que essa característica possibilita associá-la ao rejuvenescimento. A ela também está associada a imagem do Uroboro, a serpente que morde a própria cauda formando uma circunferência, símbolo de processo, da continuidade, eternidade. Além disso, simboliza uma força inconsciente da natureza que não é boa nem má. Psicologicamente, pode ser considerada como um símbolo do falo (órgão sexual masculino) e possui conotações sexuais. Essa imagem ainda está associada à Grande-Mãe que geralmente é retratada como sendo uma mulher forte, de seios nus e com os braços estirados para fora, segurando uma cobra em cada mão.




Lenda da boiuna = Um dos mitos do Amazonas, que aparece sob diferentes feições: ora como uma cobra preta, ora como uma cobra grande, de olhos luminosos como dois faróis. Os caboclos anunciam sua presença nos rios, lagos, igarapés e igapós. A imaginação amazônica criou para o nosso mito propriedades fantásticas: a boiuna pode metamorfosear--se em embarcação de vapor ou vela para mais atrair e desorientar as suas vítimas. Na Amazônia, ela toma diversos nomes: Boiuna, Cobra Grande, Cobra Norato, etc.



Lenda do boto = As lendas contam que nas noites de festas juninas, quando as pessoas estão distraídas celebrando, o boto rosado aparece transformado em um bonito e elegante rapaz mas sempre usando um chapéu, porque sua transformação não é completa, e suas narinas se encontram no topo de sua cabeça fazendo um buraco. Como um cavalheiro, ele conquista e encanta a primeira jovem bonita que encontra e a leva para o fundo do rio. Durante estas festividades, quando um homem aparece usando um chapéu, as pessoas pedem para que ele o retire para que não pensem que ele é um boto.



Tincuã = é um pássaro encantado cujo canto prenuncia a morte. Aparece no livro quando há pressentimento de algum perigo para Cobra Norato.



Conhecendo agora as principais simbologias que envolvem a obra, vejamos como ela se desenrola. Bem, o enredo mostra a jornada de um herói que luta pela filha da Rainha Luzia (outro personagem lendário). O poema é composto por 33 cantos e mostra que, movido pelo desejo carnal, Cobra Norato vence vários obstáculos em busca de concretizar o seu sonho de ter a mulher amada. Contudo, para realizar seu intento, o herói deverá mergulhar no sono e vencer etapas probatórias no mundo onírico, uma vez que sua aventura encontra-se no mundo imaginário. O termo “Sem-fim” remete para os horizontes sem fronteiras do imaginário, confirmando, dessa forma, a irrupção do inconsciente.



As lendas aparecem como forma de valorizar o folclore brasileiro, chamando a atenção das pessoas para a nossa cultura. Assim, percebemos a principal característica do Modernismo presente na obra: a busca por uma “cor local”, valorizando o que é nosso, e tornando mais rara a influência europeia. (Fontes: Internet, Ana Leal Cardoso e Dicionário de Símbolos).



É isso aí, pessoal. Até a próxima análise!


JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 09/04/2010.