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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ESTUDANDO PARA O ENEM: ANÁLISE DE TEXTOS - VIII



PLANTÃO DO VESTIBULANDO
Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...
ESTUDANDO PARA O ENEM: ANÁLISE DE TEXTOS - VIII

Olá, pessoal! Para a análise de texto nesta semana, escolhi um poema de Augusto dos Anjos o qual foi muito bem musicalizado e interpretado pela voz de Arnaldo Antunes. Leiam:

Tome, Dr., esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo! (Augusto dos Anjos)

Temos, em “Budismo Moderno”, a comprovação de que Augusto dos Anjos não se encaixa em apenas um estilo de época. Antes, é uma mistura de tendências, estilos e idiossincrasias. Percebe-se, primeiramente, que há uma certa tendência parnasianista, ao se reparar que há o clássico soneto e também pelo fato de haver rimas regulares, no esquema: ABBA, ABBA, CCD, EED. Há no poema traços realistas, por abordar uma realidade dos fatos de maneira mais rude; existe tendência naturalista, principalmente na abordagem fisiológica e na herança determinista (de Taine), na qual a morte é nossa única certeza. Além disso, fica evidente a presença do Decadentismo, corrente literária que aconteceu já nos fins do século XIX e que se liga “ao cansaço duma civilização que se julga estar no ocaso, ao tédio, à busca de sensações novas, mais intensas, fruídas no extravagante, no mórbido, nos requintes da forma” (Fonte: site Farol das Letras): a vida que se dissolve, a célula caída, a morte em grande presença no poema, a ideia mórbida de se fazer um último verso, tudo isso traduz o espírito decadente de Augusto dos Anjos.
Como se não bastasse, o poeta se vale ainda de outros recursos, pessoais, que fizeram de sua poesia não tão aceita em sua época, fizeram dele o poeta do não-lugar: Anjos utiliza palavras científicas em demasia (uma espécie de exagero do cientificismo presente nos estilos de época Realismo e Naturalismo), um vocabulário de difícil compreensão, quase não acessível à maior parte dos leitores, um gosto preferencial por superlativos e um excesso de figuras simbólicas voltadas para o azar, que, no caso do poema acima, é o urubu.
Considerem que o processo de anatomia, presente no assunto do poema “Budismo Moderno” (“Tome, Dr., esta tesoura, e... corte/ Minha singularíssima pessoa”), retrata a “dissecação” da própria alma do ser humano. Entregar sua vida, seu corpo ao médico como quem se entrega ao destino inevitável da morte. São escancaradas todas as angústias do ser humano, de maneira universal, tanto quanto particular na vida do autor.
Até a próxima...

JULIANA BARRETO – Profª de Língua Portuguesa
 


*Matéria publicada no Jornal A Semana, de Pirapora-MG, por Juliana Barreto Profª de Língua Portuguesa, formada em Letras pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Contato: ahhfalaserio@hotmail.com Página no Facebook: http://www.facebook.com/nossaquefacil

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