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terça-feira, 29 de junho de 2010

Prever, prover, provir *PASQUALE CIPRO NETO

Prever, prover, provir *


PASQUALE CIPRO NETO **



Está escrito no Código Penal e transcrito nos talões de cheques de vários bancos: "Incide em crime de estelionato aquele que emite cheque sem suficiente provisão de fundos...".



O que significa "provisão"? Os dicionários dizem que é sinônimo de "provimento".



Em "provimento", encontra-se "ato de prover", portanto "provisão" também é "ato de prover". E em "prover" encontra-se extensa lista de significados, que inclui "fornecer, suprir, munir, abastecer".



Moral da história: é preciso prover a conta bancária, ou seja, abastecê-la com o devido combustível, o dinheiro.



Prover é uma daquelas tantas palavras que, quando muito, fazem parte do nosso vocabulário passivo. Conhecemos, mas poucas vezes usamos.



Você nunca saiu de casa dizendo que ia prover o carro. Ou já saiu? É pouco provável. Mas, com o advento dos computadores e da Internet, surgiu a figura do "provedor".



Quem é o provedor? Simplesmente aquele que provê, ou seja, aquele que abastece o reservatório de informações que interessam aos assinantes.



E a palavra "provedor" passou a fazer parte de nosso vocabulário ativo, o que não ocorre com as cognatas "prover", "provisão" e "provimento".



Antes que alguém pergunte, são cognatas as palavras que têm raiz comum, como homem, humano, humanidade.



Bem, já que a palavra "provedor" entrou na dança, alguém pode ficar tentado a conjugar o verbo "prover".



E é aí que a roda pega. Esse verbo é híbrido. No presente do indicativo e no presente do subjuntivo, sua conjugação segue a do verbo "ver".



Então, se eu vejo, eu provejo. Se ele vê, ele provê. E, se eles vêem, eles provêem.



O caminho é o mesmo no subjuntivo. Se ela quer que eu veja, ela quer que eu proveja. Se ela quer que eles vejam, ela quer que eles provejam.



E por que o verbo é híbrido? Porque nos demais tempos sua conjugação é regular, ou seja, é igual à de qualquer verbo regular terminado em "er", como beber, bater, vender.



Vamos lá. Se ele bebeu, bateu, vendeu, então ele proveu. Se eles beberam, bateram, venderam, então eles proveram.



A coisa é enjoada. Quando se misturam alguns dos verbos que dão título a esta coluna, então, a coisa fica feia de vez.



Foi o que fez há algum tempo a Fuvest, que elabora o vestibular da USP. "Ele previu a seca e proveu a casa", dizia uma frase da prova de português.



Improváveis na linguagem oral, essas formas verbais talvez habitem algum texto culto. E não custa saber: previu é de prever; proveu é de prover.



E provir? Derivado de vir, é ótimo assunto para a próxima coluna. É isso.





* In Folha de S. Paulo de 25/3/1999. :: 26/03/1999

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