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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Achei interessante e resolvi repassar...

Crítica – enem como prova de vestibular By Fernanda Paz Como sabido, em meados do ano de 2009, foi decidido pelo Ministério da Educação o funcionamento do Enem como processo seletivo para ingresso nas universidades federais do país. Porém, ficou a critério de cada universidade a escolha de fazer uso ou não desse sistema como processo de seleção. Como candidata a uma vaga em História da Arte na Unifesp, venho relatar a opinião de muitos dos estudantes que se submeteram a este método de seleção. O Enem foi instaurado como vestibular as pressas. No meio do ano a decisão foi tomada pelo governo, e pouco tempo houve para que uma prova que antes não possuía caráter eliminatório sofresse mudanças suficientes a ponto de se tornar organizada e digna de avaliar se um aluno está apto ou não a ingressar em uma universidade. Prova desta falta de preparo se mostrou logo de início, quando a prova foi furtada por falta de fiscalização.Um exame de tamanha importância foi tratado com descaso. Não sabia o próprio MEC a dimensão daquilo que estava a propor. Além disso, os próprios estudantes também não tiveram tempo de se prepararem para uma prova com caráter tão inédito, de uma hora para outra. Ficaram todos no escuro, caminhando para realizarem um exame que foi imposto sem maiores explicações. Ao fim do episódio do furto da prova, algumas universidades desistiram de aderir ao Enem pois perceberam que este sistema não estava pronto para a carga de responsabilidade e seriedade que é exigida em conduzir um vestibular. Contudo, muitas universidades ainda insistiram em apostar neste processo de seleção, indo contra todos os indicativos de que esta não seria uma boa escolha. O governo espalhou campanhas dizendo o quanto o novo Enem seria mais justo e daria mais possibilidades de acesso aos estudantes carentes. Será que isso está acontecendo de fato? Seria o novo Enem uma revolução no antigo vestibular, que é massacrante, afunilado, excludente? Para responder estas perguntas temos de ir por partes e detalhar cada aspecto da “saga em busca de uma vaga numa universidade federal através do Enem”. Após o furto a prova foi adiada, deixando os estudantes “a ver navios”. E quando uma nova data para a prova foi definida e finalmente realizamos os exames, o que vemos? Provas extremamente mal feitas, com questões longas e exaustivas, que mais fizeram por testar a resistência dos alunos do que suas capacidades intelectuais. Inclusive, a prova que foi aplicada diferia em muito da prova que foi furtada. Nesta prova vimos questões sucintas, objetivas, enquanto na outra sofremos com questões demasiadamente extensas, além de alternativas ambíguas e mal elaboradas. Após tudo isso, ainda tivemos que nos esforçar para escrever uma redação sobre ética em apenas uma hora. O tema “ética” me parece bastante irônico num vestibular que se mostrou extremamente antiético com os estudantes. Em uma das coletâneas que o tema da redação apresentava, havia um texto da Lya Luft que criticava o comodismo do brasileiro. Comodismo este que podemos perceber no contexto atual, ao constatar que todos os estudantes abaixaram a cabeça e aceitaram em silêncio o novo sistema de seleção extremamente irresponsável ao qual o governo nos submeteu. O brasileiro ainda possui mentalidade de povo colonizado, submisso. É realmente uma tristeza… Conseguimos escrever uma redação sobre ética, mas nos demonstramos incapazes de colocar tal ética em prática no dia a dia de uma sociedade majoritariamente injusta e hipócrita, dirigida por governos corruptos. Reclamamos sobre o governo na mesa do almoço, mas não nos manifestamos e não exigimos nossos direitos publicamente. Procurando esquecer os problemas socias, nos entretendo com a cultura de massa e absorvendo a realidade inverossímil de uma novela na televisão, demonstramo-nos incapazes de encarar e mudar nossa própria realidade. Apesar de toda a palhaçada, aguardamos o resultado do Enem. O gabarito foi divulgado e o próprio apresentava erros, gerando caos e preocupação entre os estudantes. Estávamos ansiosos, e uma posição do MEC demorou a aparecer. Ao divulgarem o gabarito correto, todos se acalmaram e de novo alimentaram esperanças de que no fim tudo daria certo, que seria o último susto que o MEC nos pregaria. Faltava então apenas esperar o resultado com a nota final do Enem. No dia vinte e sete de janeiro de 2010, quarta-feira, o Enem divulgou a nota de cada candidato. A nota dada em cada matéria, segundo o MEC, é calculada de acordo com o TRI (Teoria de Resposta ao Item). O fato é que este TRI é algo que ninguém sabe ao certo como funciona. Foi dito que para cada questão é atribuído um peso, levando em conta as possibilidades de “chute” e grau de dificuldade das questões. Porém, não foi detalhado o cálculo usado para afirmar ou não se alguém “chutou” uma resposta. Não foi explicitado em momento algum o critério usado para classificar uma questão como “mais difícil” ou “mais fácil”, e muito menos foi divulgado o valor atribuído à cada questão respondida corretamente. Este TRI parece-me essencialmente baseado em estatísticas, e estatísticas são falhas demais para atribuírem notas a um vestibulando. Tira nota menor quem o sistema deduziu como “chutador” de respostas, mas não há provas, não há esclarecimento dos supostos cálculos que este TRI propõe, nem nada! Não houve transparência alguma na correção das provas. O MEC não deixou em aberto ao público como tudo isso foi feito exatamente. Cada prova apresentou uma escala de notas diferente, que deixou tudo ainda mais confuso. Vimos notas mais altas em matérias que tínhamos acertado bem menos respostas do que em outras que acertamos mais. Minha nota de português, por exemplo, foi quase igual a de matemática, sendo que meu número de acertos em matemática foi ínfimo, se comparado ao de português. É fato que as notas não são claras e não correspondem a realidade do desempenho do aluno na prova. Conclusão: ficamos no escuro, sem saber de fato de que maneira fomos avaliados. Não acho justo que tenhamos que aceitar notas tão contraditórias sem ao menos uma explicação plausível. Sem dúvida faltou transparência em todo o processo, e muitos estudantes sentiram-se injustiçados. Além disso, a correção da redação também foi bastante duvidosa. Foram relatados casos (entre amigos, pessoas próximas, matérias em jornais e até mesmo em comunidades do Orkut) em que candidatos escreveram apenas 4 linhas na redação e obtiveram nota 500 de 1000 *, sendo que nas instruções da prova estava bem claro que redações com menos de 7 linhas seriam anuladas. Mas os erros não param por aí… As notas das redações de 915 estudantes foram divulgadas erradas**, e um dos corretores da redação admitiu que o sistema posposto pelo Enem foi falho e injusto. Podemos conferir isso no seguinte sítio: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/um-relato-que-denuncia-que-o-enem-de-haddad-e-irresponsavel-e-fonte-de-injustica-o-aluno-depende-do-arbitrio-de-quem-corrige-a-prova-nao-da-sua-competencia/ Posso afirmar que vi redações classificadas como “ótimas” por professores de cursinho receberem notas baixas pelos corretores do Enem, e do contrário também aconteceu, redações consideradas ruins, até mesmo pelos próprios estudantes que as escreveram, receberem notas altas. Candidatos que obtiveram pontuações altas em redações de outros vestibulares, conseguiram pontuações ínfimas na redação do Enem***. Creio que a correção de um professor de cursinho formado na Unicamp, por exemplo, seja muito mais confiável que a de um corretor misterioso, que ninguém sabe de onde vem, acostumado a corrigir redações de um Enem que antes não era usado como vestibular. Se tudo neste Enem se demonstrou despreparado para a responsabilidade de conduzir esta prova, não seriam os corretores os únicos adequados a este encargo. Fica a impressão de que tudo foi muito mal corrigido, e de que entrar ou não numa universidade depende apenas de sorte, e não de conhecimento. E mesmo depois da irresponsabilidade e falta de clareza que foi todo o processo do Enem, ainda insistiram em torná-lo eliminatório para o ingresso numa universidade Federal. Por fim abrem as inscrições para o SiSU (Sistema Único de Seleção), e mais palhaçada ainda estaria por vir. Primeiramente nos deparamos com um site mal preparado, que não estava suportando os acessos de todos os estudantes. Foram 2,6 milhões de candidatos que prestaram o Enem, e nos primeiros dias de inscrição muita gente permaneceu o dia inteiro tentando se inscrever em algum curso superior. Sim, muitos ficaram das seis da manhã à meia noite em frente ao computador, lutando por seus sonhos. Quem não tem condições financeiras dignas, mora lá no Piauí e depende de uma rede de internet discada, simplesmente não teve chance nessa briga. O fato de as inscrições só serem realizadas pela internet , já demonstra um elitismo danado. Se a proposta do Enem fosse mesmo dar mais oportunidades a população carente, haveria espalhados por aí postos de inscrição no SiSU. Ocorreria uma “popularização” ao acesso a uma vaga numa universidade, mas não é o que estamos vendo. Além disso, a promessa de que poderíamos escolher cinco opções de curso para concorrer de repente é desfeita, e no dia em que inaugura o SiSU descobrimos que fomos enganados. Num vestibular normal, quem quisesse prestar, por exemplo Unifesp e UFABC, teria essa oportunidade, mas com o Sistema de Seleção Unificado quem queria tentar vaga em mais de uma universidade federal, dançou. Estamos também presenciando outro grave problema: a disponibilidade de vagas em lugares como Manaus e Rondônia, o que coloca em disputa candidatos do sudeste versus candidatos do norte do país. Tal disputa é injusta, pois no sudeste os estudantes estão acostumados com vestibulares muito concorridos, e portanto são mais preparados, conseguindo assim as vagas que deveriam ser destinadas aos nortistas. Este sistema faz com que não seja mais necessário ir até o norte do país para prestar vestibular por lá, e muitos estão desesperados por uma vaga numa universidade federal e dispostos a tudo. Inclusive quando percebem que a nota de corte de seus cursos está muito alta, optam por cursos menos concorridos, acabando com a oportunidade de quem, apesar de possuir uma nota mais baixa, de fato queria e sonhava com este curso. Esse é um dos grandes problemas do SiSU. A chance de mudar a opção de curso a qualquer momento prejudica e exclui pessoas que não estão escolhendo aleatoriamente qualquer faculdade somente porque a nota de corte está baixa, mas sim porque sonham em serem profissionais em determinada área. A idéia de que o estudante pode optar por outra carreira menos concorrida e assim garantir uma vaga na universidade pública a todo custo, em detrimento, inclusive, de sua possível vocação profissional, denota a falta de seriedade nas instituições de ensino, que não hesitam em pensar a educação como mercadoria: não havendo disponibilidade ou condições de adquirir o produto X, opte pelo produto Y. Assim, corremos o sério risco de ver estudantes que, por exemplo, queriam ser advogados, tornando-se frustrados professores de história, pois a nota de corte do curso lhes cabia melhor. Ou pior ainda: podemos ter alunos matriculados desinteressados do curso, que abandonarão a qualquer momento a faculdade, deixando vagas ociosas que poderiam estar sendo ocupadas por pessoas realmente interessadas e com vocação para a carreira. È neste momento que me dirijo às universidades federais e pergunto: que tipo de aluno essas instituições desejam selecionar? Que tipo de aluno uma prova como o Enem e um sistema como o SiSU podem selecionar, se na minha visão e na de muitos outros, tudo isso não avaliou de fato o conhecimento do candidato? Nunca acreditei que o vestibular tradicional fosse totalmente justo, e jamais imaginaria que algo ainda mais injusto poderia ser inventado! O papel do governo, no que tange a educação, é melhorar a qualidade de ensino nas escolas públicas e aumentar a quantidade de vagas a serem oferecidas pelas universidades federais e estaduais, para que um dia todos possam ter o direito de ingressar em uma universidade gratuita e qualificada, e não criar vestibulares ainda mais injustos e excludentes. Nós, estudantes, fomos cobaias, ratinhos de laboratório de um experiência muito mal feita pelo governo. Peço, em meu nome e em nome de muitos outros estudantes que se sentiram prejudicados, que isso tenha um fim. Dizemos NÃO ao Enem, NÃO a uma prova mal feita, NÃO a um sistema mal organizado, NÃO a uma correção de exames duvidosa, NÃO a uma instituição irresponsável e sem idoneidade! Infelizmente, talvez não haja mais tempo para que a seleção dos ingressantes nos cursos das universidades federais em 2010 seja diferente. Mas apelo para que, ao menos, no próximo vestibular, esse erro não se repita. Nós, estudantes, exigimos um posicionamento dos órgãos públicos responsáveis por todo o transtorno que fomos obrigados a passar. Aguardo uma posição das universidades quanto a esta questão, e espero que este SiSU seja definitivamente abolido por parte de todas as universidades federais do país, ou que seja completamente reformulado, transparente e justo. De uma candidata ao curso de História da Arte na Unifesp, mobilizada por tantas injustiças e apoiada e incentivada por outros estudantes igualmente inconformados, Fernanda Eda Paz Leite

Um comentário:

  1. O Enem deste ano foi mal estruturado. Como o pessoal que definiu o sistema de peso de cada questão não previu que poderia criar uma dança de cadeiras onde alguém que por sorte acertou grande parte das questões que valiam mais através do chute?
    Parece que decisões são tomadas girando a roleta do Bom Dia & Cia com as opções marcadas e nem questionam o que pode dar errado em cada escolha.

    Ainda o sistema tradicional ao meu ver está sendo mais justo do que essa bagunça que foi aí.

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