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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Movimentos de Vanguarda

As transformações tecnológicas por que o mundo passou na virada do nosso século modificaram as maneiras de o homem perceber a realidade. O automóvel, o avião, o cinema deslocaram e aceleraram o olhar do homem moderno. Em meio a essas transformações surgem várias manifestações artísticas – impressionismo, Expressionismo, Futurismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo -, que ficariam conhecidas como “correntes de vanguarda” e que conjugadas, dariam origem ao Modernismo.

Futurismo

Surgiu por meio do Manifesto do Futurismo, pulicado em Paris, em 1909, assinado pelo italiano Filippo Tommaso Marinetti. Nesse documento, o primeiro de uma série (foram publicados pelo menos vinte manifestos) – Marinetti propunha:

  • o amor ao perigo, à verdade, à energia.
  • a abominação do passado: arqueologia, academicismo, nostalgia, sentimentalismo.
  • a exaltação da guerra, do militarismo, do patriotismo: “A guerra é a única higiene do mundo”.
  • a substituição da psicologia do homem (destruindo o eu na literatura) pela obsessão da matéria.
  • a incorporação de novos objetos como temas de poesia: locomotivas, automóveis, aviões, navios a vapor, fábricas, multidões de trabalhadores.
  • exaltação da bofetada e do soco: Não há beleza senão na luta”.

Dos manifestos que seguiram que envolveram pintura, música, escultura, moral, mulher e arte mecânica, entre outros assuntos, o mais importante foi o Manifesto Técnico da Literatura Futurista, datado de março de 1912, publicado em Milão, onde são apresentados minuciosamente os pçontos básicos de uma reforma radical:

  • a destruição da sintaxe, com os substantivos dispostos ao acaso.
  • o emprego do verbo no infinitivo, para que se adapte elasticamente ao substantivo e possa dar o sentido de continuidade e da intuição que nele se percebe.
  • abolição do adjetivo, para que o substantivo guarde sua “cor essencial”.
  • abolição do advérbio, “que dá à frase uma cansativa unidade de tom”.
  • supressão dos elementos de comparação: como, parecido com, assim como.
  • substituição dos sinais tradicionais de pontuação por signos matemáticos: X-:+=><>
  • abolição de todos os clichês.

O propósito de fazer do Futurismo o estilo de arte que expressasse o progresso, a vida mecanizada, acabou fazendo desse movimento um meio de divulgação do fascismo de Mussolini. Futurismo e fascismo tinham em comum: o desprezo pela democracia e pelo socialismo, o antifeminismo, o caráter antiburguês.

Cubismo

O ponto de partida do Cubismo foi a pintura de Pablo Picasso. O quadro Les Demoiselles d’Avignon, de 1907 propunha uma nova forma de apreensão do real. Por meio de formas geometrizadas, deformadas, Picasso procura captar o objeto em simultaneidade, isto é, de vários ângulos ao mesmo tempo.

Na literatura podem ser apontados os seguintes elementos do estilo cubista:

  • a obra de arte não deve ser uma representação objetiva da natureza, mas uma transformação dela, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva.
  • a procura da verdade deve centralizar-se na realidade pensada, criada, e não na realidade aparente.
  • a ordem cronológica deve ser eliminada. As sensações e recordações vão e vêm do presente ao passado, embaralhando o tempo.
  • a valorização do humor, a fim de afugentar a monotonia da vida nas modernas sociedades industrializadas.
  • a supressão da lógica; preferência pelo pensamento-associação, que transita entre o consciente e o subconsciente.

A técnica dos cubistas é a da representação da realidade por meio de estruturas geométricas, desmontando os objetos para que, remontados pelo espectador, deixassem transparecer uma estrutura superior, essencial. Os cubistas afirmam que as coisas nunca aparecem como elas são, mas deformadas em todos os sentidos.

Dadaísmo

Surgido em Zurique, na Suíça, com o primeiro manifesto do romeno Tristan Tzara, lido em 1916, o Dadaísmo foi a mais radical das correntes de vanguarda.

O movimento nasceu no Cabaret Voltaire, ponto de encontro de artistas vindos de várias partes da Europa e que procuravam proteção contra a Primeira Guerra Mundial na neutralidade política da Suíça. Entre esses artistas estavam: Hans Arp, Marcel Jancso e Hugo Ball.

Para os dadaístas, a guerra evidenciava a crise de uma civilização cujos valores morais e espirituais já não tinham mais razão de serem preservados. Por isso, afirmavam o desejo de independência, de desconfiança para com a sociedade em geral: “Não reconhecemos nenhuma teoria. Basta de academias cubistas e futuristas: laboratórios de idéias formais”.

Numa prova dessa liberdade total, o próprio Tristan Tzara explica como surgiu o nome do movimento:

“Encontrei o nome por casualidade, inserindo uma espátula num tomo fechado do Petit Laorousse e lendo imediatamente, ao abri-lo, a primeira linha que me chamou a atenção: Dada.

Meu propósito foi criar apenas uma palavra expressiva que através de sua magia fechasse todas as portas à compreensão e não fosse apenas mais um –ISMO”.

“Dada” significa cavalo de balanço em francês, “sim” em romeno, preocupação em conduzir o carrinho do bebê em alemão, uma forma de chamar a mãe em italiano, e, em certas regiões da África, o rabo da vaca sagrada. A partir dessa plurissignificação, a obra dadaísta passa a ser improvisação, desordem, dúvida, oposição a qualquer tipo de equilíbrio.

Faziam parte das propostas dadaístas:

  • a denúncia das fraquezas por a Europa passava.
  • a recusa dos valores racionalistas da burguesia.
  • a desmistificação da arte: “a arte não é coisa séria”.
  • a negação da lógica, da linguagem, da arte e da ciência.
  • a abolição da memória, da arqueologia, dos profetas e do futuro.

    No último manifesto do movimento (ao todo foram sete), Tzara dá uma receita para fazer um poema dadaísta:

    Pegue um jornal.

    Pegue a tesoura.

    Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.

    Recorte o artigo.

    Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.

    Agite suavemente.

    Tire em seguida cada pedaço um após o outro.

    Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.

    O poema se parecerá com você.

    E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

    Surrealismo

    O Surrealismo foi o último dos movimentos de vanguarda. Surgiu em 1924, em Paris, quando André Breton lançou o Manifesto do Surrealismo.

    O movimento nasceu de uma ruptura com o Dadaísmo. Enquanto os dadaístas insistiam na mera destruição, o niilismo e na autofagia, Breton e outros artistas como Louis Aragon e Salvador Dali achavam que a ação demolidora deveria somente uma das etapas do processo criativo. Queriam elaborar uma nova cultura, encontrar um caminho de acesso às zonas profundas do psiquismo no humano. Questionando a sociedade e a arte, eles se propunham destruí-la, para recria-la a partir de técnicas renovadoras.

    Os surrealistas procuravam fundir a imaginação, que dorme no inconsciente, com a razão. Juntar o maravilhoso do sonho, dos estados de alucinação e até de loucura do homem, com o maravilhoso e externo: a fantasia e a realidade unidas permitiram captar uma super-realidade.

    Eram propostas dos surrealistas:

    abolição da lógica. Recusavam o racionalismo absoluto que permite apenas captar os fatos relacionados unicamente com a nossa experiência.

    valorização do inconsciente. Apoiados na pesquisas de Sigmund Freud, que identifica zonas (o subconsciente e o inconsciente) muito importantes para a ação do ser humano, procuram a inspiração nos sonhos.

    atribuição de um caráter lúdico à arte. A poesia deixa de ser em entendida como canto ou como meio de comunicação de vivências, para se tornar ação mágica, mito, meio de conhecimento:

  • automatização da escrita. O texto deve ter como preocupação maior captar o funcionamento real do pensamento. Os pensamentos devem ser exprimidos caoticamente, tal como nos ocorrem, sem preocupação com o ordenamento lógico.
  • presença do humor negro. Com o propósito de fugir aos lugares-comuns, os surrealistas juntam muitas vezes uma palavra logicamente adequada a uma outra absurda, produzindo imagens insólitas, como: anjo torto, cadáver agradável, morte feliz, etc.
  • Estes foram os principais movimentos de vanguarda da Europa que influenciaram o Modernismo Brasileiro.

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