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sexta-feira, 7 de maio de 2010

A simbologia em Por trás dos vidros

PLANTÃO DO VESTIBULANDO


Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...



A simbologia em Por trás dos vidros



Olá, pessoal! Nesta semana, trago para vocês a análise das simbologias presentes na obra Por trás dos vidros, de Modesto Carone.

Ao analisarmos o título do livro, logo percebemos um grande símbolo a ser desvendado: o vidro. Assim como o espelho, o vidro remete à distorção da imagem; uma imagem contrária da realidade e, muitas vezes, bagunçada, não nítida, esfumaçada. Literariamente, isso quer dizer que o autor nos faz pensar sobre as (falsas) impressões que temos da vida; sobre a nossa forma particular de enxergar o que é bom ou ruim, certo ou errado. Trata-se, portanto, de um mergulho em nosso ser, em nossa consciência, uma autoanálise, o que é chamado, na análise literária, de Mise-en-abime: aprofundar-se no abismo... no abismo de nós mesmos.

Outro símbolo muito presente na obra de Carone são as nuvens. Elas remetem à abstração, às circunstâncias obscuras, complicações, inquietudes. As nuvens aparecem, por exemplo, no conto “O natal do viúvo”, em que há uma negação total da realidade: constroem-se e destroem-se ideias e acontecimentos; pessoas aparecem e desaparecem magicamente; uma campainha toca e, ao mesmo tempo, é descrita como muda. A presença das nuvens vem confirmar essa ausência sentida pelo personagem, uma solidão incômoda e angustiante, algo, inclusive, presente em todo o livro.

Asfalto, concreto, a cor cinza e o metal são símbolos relacionados à urbanização. E, consequentemente, ao dinamismo, à violência, aos perigos, à frieza da cidade. E o relógio, muito presente em várias partes do livro, simboliza o passar do tempo, o inevitável desenrolar da vida e a aproximação da futura morte.

Em “Ponto de vista”, é narrada a história de um homem que trabalhava agachado, embaixo da mesa do escritório. Além de ser uma situação estranha e cômica, é também carregada de simbologias. É possível fazer aí uma analogia com a “Alegoria da caverna”, de Platão, na qual ele fala sobre homens que viviam aprisionados numa caverna, sem nunca ter visto nada além de sombras refletidas nas paredes. Quando um homem consegue sair da caverna, seus olhos se ofuscam com a claridade. É, ao mesmo tempo, uma descrição do comodismo das pessoas em não querer abandonar seu “mundo” e a angústia inicial causada pela mudança de ambiente e comportamento.

Esse comodismo também é retratado pela imobilidade dos personagens do livro. Muitos aparecem acomodados a uma situação, totalmente estáticos, como o que está numa cama há tanto tempo que sente como se ela fosse um prolongamento do seu corpo (“A força do hábito”), um homem que convive com um tiroteio no jardim de sua casa, impedindo-o de sair, mas que não faz nada para mudar sua realidade (“Dias melhores”), ou ainda o protagonista de “O espantalho”, o qual encontra um cadáver de um enforcado dentro do seu guarda-roupa, não se espanta e segue sua vida normalmente.

Essa visão natural e apática em relação à morte é um ponto importante da obra. Além disso, temas como sexo, a loucura e uma análise sobre a velhice também se fazem presentes. Mas o ponto crucial se encaixa no grau de ficcionalidade, chegando ao fantástico, que perpassa todo o livro de Modesto Carone. Atitudes irreais como a do homem que passa a viver numa caixa d’água, em “Reflexos”, mostram a fabulação exagerada da obra.

É isso. Até a próxima!
JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 07/05/2010.

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