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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Sagarana – Parte II

PLANTÃO DO VESTIBULANDO


Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...



Sagarana – Parte II

Olá, pessoal. Conforme havia prometido, trago nesta semana mais um pouco de análise sobre a obra Sagarana, de Guimarães Rosa. Vamos lá?

O primeiro conto, O Burrinho Pedrês, traz a história de Sete-de-ouros, um burro já velho, cansado e quase cego, mas responsável pela salvação de dois personagens numa travessia pela enchente. O Major Saulo sai com seus vaqueiros levando o gado, fazendo com que um de seus homens monte o burrinho. Todos fazem pouco caso do animal, devido à sua velhice e má aparência. O pio do João-corta-pau é indício de um mau agouro que estaria por vir. Trata-se da enchente, a qual já havia matado muitas pessoas e animais. Ao contrário do previsto, o burrinho é o único que se salva do gado, salvando também a vida de dois vaqueiros que o acompanhavam. É uma história cheia de fabulação, em que o personagem do Sete-de-ouros toma o papel de herói. Além disso, percebem-se vários recursos estilísticos usados por Guimarães Rosa, principalmente no tocante à musicalidade: Ditados populares, como “Quem vai na frente bebe a água limpa”; uso de aliterações (repetição de sons consonantais), como em “três trons de trovões”, “Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando ... dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito ... vai, vem,volta, vem na vara, vai não volta, vai varando”; e até mesmo uma rima que lembra uma ladainha, prece religiosa:” (...) pela ponte nebulosa por onde os burrinhos sabem ir, qual a qual sem conversa, sem perguntas, cada um no seu lugar, devagar, por todos os séculos e seculórios, mansamente amém”.

A volta do marido pródigo mostra o sabido Lalino, que abandona a mulher para viver em boemia na capital, mas retorna e consegue conquistá-la de novo, mesmo depois de ela ter ido morar com um espanhol. O que chama atenção neste conto é a capacidade de persuasão do personagem, o qual também usa sua lábia para conseguir a confiança do Seu Marra, seu primeiro patrão, e do Major Anacleto, de quem foi cabo eleitoral. O conto é dividido em nove partes as quais lembram os atos de uma peça teatral, pois, cada vez que termina uma parte, é como se as cortinas se fechassem para abrir novamente, numa nova cena.

Em Sarapalha, dois primos doentes conversam em uma linguagem tipicamente regional, trocando opiniões sobre diversos assuntos, ajudando-se a suportar os sintomas da doença. Primo Argemiro se mostra muito amigo e fiel ao Primo Ribeiro, ajudando-o em tarefas simples as quais o amigo já não tinha condições de fazer sozinho, como beber água, embrulhar-se, deitar-se, levantar-se. Argemiro confessa ao primo que amou Luísa, ex-mulher de Ribeiro a qual fugiu com outro havia algum tempo. Ao saber disso, tomado pelo ciúme, Primo Ribeiro expulsa Argemiro da fazenda. Neste conto, fica clara a mudança de posicionamento quando se está com ciúme, uma vez que, nesse momento, Ribeiro já não se importava com a ajuda do primo.

Em Duelo, Turíbio Todo surpreende a mulher na cama com Cassiano Gomes. Sabendo que estava fisicamente em desvantagem, Turíbio prefere esperar outra oportunidade para matar o rival. Muitos dias se passam sem que os rivais se encontrem, até que Cassiano fica doente, conhece Timpim Vinte-e-um e cria uma amizade com ele. Cassiano morre, mas Timpim cumpre sua promessa, matando Turíbio. É interessante observar que temas como vingança, traição cometida tanto por homem quanto pela mulher, propósito de “lavar a honra com sangue”, etc., são temas comuns no mundo regional, muito retratados por Guimarães Rosa.

É isso aí. Na próxima veremos os demais contos. Até lá.
JULIANA BARRETO – PROFª DE LÍNGUA PORTUGUESA – Matéria publicada pelo Jornal A Semana, de Pirapora/MG, em 23/04/2010.

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