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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ESTUDANDO PARA O ENEM: ANÁLISE DE TEXTOS - XIII




PLANTÃO DO VESTIBULANDO
Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...
ESTUDANDO PARA O ENEM: ANÁLISE DE TEXTOS - XIII

Olá, pessoal! Como última parte dos nossos preparatórios para a prova do Enem, que acontecerá neste próximo final de semana, trouxe um fragmento adaptado do conto de João do Rio, no qual vocês poderão perceber como a escrita dita pós-moderna é repleta de surpresas. Conta a história de um homem que encontrou, em pleno Carnaval, uma mulher vestida de “bebê”. Vejamos o desenlace da história.

“(...) Abracei-a. Beijei-lhe os braços, beijei-lhe o colo, beijei-lhe o pescoço. Gulosamente a sua boca se oferecia. Em torno de nós o mundo era qualquer coisa de opaco e de indeciso. Sorvi-lhe o lábio. Mas o meu nariz sentiu o contato do nariz postiço dela, um nariz com cheiro a resina, um nariz que fazia mal. - Tira o nariz! - Ela segredou: Não! não! custa tanto a colocar! Procurei não tocar no nariz tão frio naquela carne de chama. O pedaço de papelão, porém, avultava, parecia crescer, e eu sentia um mal-estar curioso, um estado de inibição esquisito. - Que diabo! Não vás agora para casa com isso! Depois não te disfarça nada. - Disfarça sim! - Não! procurei-lhe nos cabelos o cordão. Não tinha. Mas abraçando-me, beijando-me, o bebê de tarlatana rosa parecia uma possessa tendo pressa. De novo os seus lábios aproximaram-se da minha boca. Entreguei-me. O nariz roçava o meu, o nariz que não era dela, o nariz de fantasia. Então, sem poder resistir, fui aproximando a mão, aproximando, enquanto com a esquerda a enlaçava mais, e de chofre agarrei o papelão, arranquei-o. Presa dos meus lábios, com dois olhos que a cólera e o pavor pareciam fundir, eu tinha uma cabeça estranha, uma cabeça sem nariz, com dois buracos sangrentos atulhados de algodão, uma cabeça que era alucinante - uma caveira com carne...
Despeguei-a, recuei num imenso vômito de mim mesmo. Todo eu tremia de horror, de nojo. O bebê de tarlatana rosa emborcara no chão com a caveira voltada para mim, num choro que lhe arregaçava o beiço mostrando singularmente abaixo do buraco do nariz os dentes alvos. - Perdoa! Perdoa! Não me batas. A culpa não é minha! Só no Carnaval é que eu posso gozar. Então, aproveito, ouviste? aproveito. Foste tu que quiseste...
Sacudi-a com fúria, pu-la de pé num safanão que a devia ter desarticulado. Uma vontade de cuspir, e vinha-me o imperioso desejo de esmurrar aquele nariz... Mas um apito trilou. O guarda estava na esquina e olhava-nos. Que fazer? Levar a caveira ao posto policial? Dizer a todo o mundo que a beijara? Não resisti. Afastei-me, apressei o passo e ao chegar ao largo inconscientemente deitei a correr como um louco para a casa, os queixos batendo, ardendo em febre. Quando parei à porta para tirar a chave, é que reparei que a minha mão direita apertava uma pasta oleosa e sangrenta. Era o nariz do bebê de tarlatana rosa...
- Uma aventura, meus amigos, uma bela aventura. Quem não tem do Carnaval a sua aventura? Esta é pelo menos empolgante.” (O BEBÊ DE TARLATANA ROSA - João do Rio).

É interessante como, no conto, o autor desenvolve um personagem que é levado pela beleza de uma mulher e seu exótico nariz, por debaixo de uma fantasia de bebê, e, ao perceber que o nariz era postiço, arranca-o com tal frieza, a ponto de verificar que era não componente da fantasia carnavalesca, mas um disfarce para o oco existente no lugar do nariz da mulher. De atraído, ele passa a enojado. Numa facilidade e frieza que somente o texto pós-moderno pode oferecer. Mais ainda se se trata de João do Rio. É uma mistura de Realismo (na descrição da realidade nua e crua), Naturalismo (na sexualidade e erotismo), com as rupturas temáticas e toda a abrangência de estilos diversos do Modernismo. Com o toque de mistério, suspense e humor negro da nossa contemporaneidade.
Bons estudos. Boas provas e... Até a próxima!!!

JULIANA BARRETO – Profª de Língua Portuguesa
 


*Matéria publicada no Jornal A Semana, de Pirapora-MG, por Juliana Barreto Profª de Língua Portuguesa, formada em Letras pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Contato: ahhfalaserio@hotmail.com Página no Facebook: http://www.facebook.com/nossaquefacil

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