PLANTÃO
DO VESTIBULANDO
Uma maneira simples de aprender a como chegar lá...
ESTUDANDO
PARA O ENEM: ANÁLISE DE TEXTOS - XIII
Olá,
pessoal! Como última parte dos nossos preparatórios para a prova do Enem, que
acontecerá neste próximo final de semana, trouxe um fragmento adaptado do conto
de João do Rio, no qual vocês poderão perceber como a escrita dita pós-moderna
é repleta de surpresas. Conta a história de um homem que encontrou, em pleno
Carnaval, uma mulher vestida de “bebê”. Vejamos o desenlace da história.
“(...) Abracei-a. Beijei-lhe os
braços, beijei-lhe o colo, beijei-lhe o pescoço. Gulosamente a sua boca se
oferecia. Em torno de nós o mundo era qualquer coisa de opaco e de indeciso.
Sorvi-lhe o lábio. Mas o meu nariz sentiu o contato do nariz postiço dela, um
nariz com cheiro a resina, um nariz que fazia mal. - Tira o nariz! - Ela
segredou: Não! não! custa tanto a colocar! Procurei não tocar no nariz tão frio
naquela carne de chama. O pedaço de papelão, porém, avultava, parecia crescer,
e eu sentia um mal-estar curioso, um estado de inibição esquisito. - Que diabo!
Não vás agora para casa com isso! Depois não te disfarça nada. - Disfarça sim!
- Não! procurei-lhe nos cabelos o cordão. Não tinha. Mas abraçando-me,
beijando-me, o bebê de tarlatana rosa parecia uma possessa tendo pressa. De
novo os seus lábios aproximaram-se da minha boca. Entreguei-me. O nariz roçava
o meu, o nariz que não era dela, o nariz de fantasia. Então, sem poder
resistir, fui aproximando a mão, aproximando, enquanto com a esquerda a
enlaçava mais, e de chofre agarrei o papelão, arranquei-o. Presa dos meus
lábios, com dois olhos que a cólera e o pavor pareciam fundir, eu tinha uma
cabeça estranha, uma cabeça sem nariz, com dois buracos sangrentos atulhados de
algodão, uma cabeça que era alucinante - uma caveira com carne...
Despeguei-a, recuei num imenso
vômito de mim mesmo. Todo eu tremia de horror, de nojo. O bebê de tarlatana
rosa emborcara no chão com a caveira voltada para mim, num choro que lhe
arregaçava o beiço mostrando singularmente abaixo do buraco do nariz os dentes
alvos. - Perdoa! Perdoa! Não me batas. A culpa não é minha! Só no Carnaval é
que eu posso gozar. Então, aproveito, ouviste? aproveito. Foste tu que
quiseste...
Sacudi-a com fúria, pu-la de pé
num safanão que a devia ter desarticulado. Uma vontade de cuspir, e vinha-me o
imperioso desejo de esmurrar aquele nariz... Mas um apito trilou. O guarda
estava na esquina e olhava-nos. Que fazer? Levar a caveira ao posto policial?
Dizer a todo o mundo que a beijara? Não resisti. Afastei-me, apressei o passo e
ao chegar ao largo inconscientemente deitei a correr como um louco para a casa,
os queixos batendo, ardendo em febre. Quando parei à porta para tirar a chave,
é que reparei que a minha mão direita apertava uma pasta oleosa e sangrenta.
Era o nariz do bebê de tarlatana rosa...
- Uma aventura, meus amigos, uma
bela aventura. Quem não tem do Carnaval a sua aventura? Esta é pelo menos
empolgante.” (O BEBÊ DE
TARLATANA ROSA - João do Rio).
É
interessante como, no conto, o autor desenvolve um personagem que é levado pela
beleza de uma mulher e seu exótico nariz, por debaixo de uma fantasia de bebê,
e, ao perceber que o nariz era postiço, arranca-o com tal frieza, a ponto de
verificar que era não componente da fantasia carnavalesca, mas um disfarce para
o oco existente no lugar do nariz da mulher. De atraído, ele passa a enojado.
Numa facilidade e frieza que somente o texto pós-moderno pode oferecer. Mais
ainda se se trata de João do Rio. É uma mistura de Realismo (na descrição da
realidade nua e crua), Naturalismo (na sexualidade e erotismo), com as rupturas
temáticas e toda a abrangência de estilos diversos do Modernismo. Com o toque
de mistério, suspense e humor negro da nossa contemporaneidade.
Bons
estudos. Boas provas e... Até a próxima!!!
JULIANA BARRETO
– Profª de Língua Portuguesa
*Matéria publicada no Jornal A Semana, de Pirapora-MG, por Juliana Barreto Profª de Língua Portuguesa, formada em Letras pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Contato: ahhfalaserio@hotmail.com Página no Facebook: http://www.facebook.com/nossaquefacil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada!